terça-feira, 21 de dezembro de 2010

OS VALORES DE SUSAN SONTAG
E AS CARÊNCIAS DE UM
FELIZ ANO NOVO
Assistindo a uma entrevista da escritora Susan Sontag, ouvi sentenças que considero fundamentais para a formação da opinião pública internacional. Todavia, seguindo Dostoievski, para ser universal começo assumindo, contando minha aldeia, ou seja, meu bairro, minha cidade, meu país.

Estamos a cerca de 50 dias após o término da última batalha eleitoral. Estamos, também, às vésperas do encerramento de um reinado, mas, não de uma dinastia. E isto contém todos os elementos advindos do exercício do poder continuado com base ideológica. Um deles é a geração de uma oligarquia de novo tipo, uma quase casta que se constitui pelo usufruto de benesses do poder a partir do consenso em torno de uma “verdade”, de um dogma político, que se resume em última palavra ao apoio irrestrito ao messianismo de esquerda.

Tal fato político, com fortes conseqüências na cultura, na vida da sociedade, tem a tendência a execrar, estigmatizar as pessoas, idéias, atitudes discordantes da “verdade redentora”, da “missão revolucionária de salvar os menos favorecidos”. “Afinal?” retine a indagação retórica, como podem estes “espíritos de porcos” terem a ousadia de se contrapor a algo tão generoso, tão solidário? Interrogações capciosas que induzem a respostas intolerantes.

A escritora Susan Sontag tem uma marca pessoal de luta pela paz, de denúncia do horror e brutalidade que é a guerra. Porém, a esquerda tupiniquim (que nos perdoem os tupiniquins pela metonímia infeliz) fecha os olhos a amizade alimentada com governo mais armamentista do continente, que é o caudilhismo, também chamado de bolivariano, do coronel venezuelano Hugo Chavez. De igual modo, mostra-se simpática à narcoguerrilha das FARC que dilacera a nação colombiana. Mas, isto é só o preâmbulo.

A escritora Sontag, que é de esquerda, declara com ênfase que entre os valores a serem defendidos e preservados estão: o direito de discordância, a tolerância diante da diversidade de pensamento, o respeito aos dissidentes e mesmo opositores e a necessidade de vigilância cívica perante os fundamentalismos.

Qualquer observador da História sabe que para as camadas médias da população (e esta é hoje a maior fatia social do Brasil, cerca de 94 milhões) a pior opressão é a que cerceia ou estigmatiza a liberdade de pensamento ou de expressão social, das diversas maneiras de ver a sociedade, desde a mais elementar atitude política no bairro, no município, até os rumos do país. No entanto, o grande narcótico que alumbra e deita em devaneios paradisíacos as classes médias e populares é o mito do poder constituído para a redenção missionária dos mais pobres. Em nome deste predestino, desta suposta “missão”, tudo ou quase tudo que se torna ou ameaça ser um imaginário obstáculo, oposição a este “sacro desígnio” é rapidamente vestido com a túnica do opróbrio. No maniqueísmo daí derivado, o bem é a marcha pela utopia, e o mal, a discordância ou crítica deste roteiro tão sublime. Como dizia Sartre (outro intelectual de esquerda lúcido) com nítida intenção crítica: “o inferno são os outros”. Para a inquisição messiânica daqui e de alhures, o “inferno” pode ser qualquer um de nós. Cuidemos hoje para que amanhã as fogueiras não se acendam.

Feliz Natal e um Ano Novo cheio de liberdade, tolerância, fraternidade e muita lucidez. Vamos precisar dela.

Casa Forte, 21/12/2010
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 – cavalcantimarcelo1948@hotmail.com













Nenhum comentário:

Postar um comentário