quinta-feira, 18 de novembro de 2010

PMDB VERSUS PT

- Está só começando

A Presidente eleita alcançou a vitória no 2º turno, com 10% de vantagem, graças a uma aliança ultra elástica que contou com: desde o comportamento discretíssimo (no período eleitoral) do MST de José Rainha e João Stédile até o PP de Maluf, Delfim Neto e o PR do bispo Crivella e de Tiririca. Neste leque eleitoral está o PMDB, muito mais que um fiel de balança, porém, um lastro político de peso extraordinário.

Para quem ainda está surfando nas borbulhas da vitória eleitoral vale lembrar algumas lições da História. Vamos a algumas delas. Na Roma Antiga, o primeiro triunvirato que compôs Pompeu, Crasso e Júlio Cesar acabou em um mata-mata com a prevalência de um, que estava longe de ser, originalmente, o grande favorito. Séculos depois, Constantino também traçou uma trajetória onde, sendo apenas o filho de Valério Constâncio, que, por sua vez tornara-se membro de um quadriunvirato a partir de uma manobra palaciana que mudara o eixo do poder em Bizâncio.

Bem, estávamos no Brasil do início do século XXI. O Presidente do PMDB, também Presidente da Câmara e Vice Presidente eleito da República Michel Temer, conhecido e reconhecido por sua estrema habilidade e senso de percepção política, e como tal, nomeado pela Presidente eleita coordenador das articulações junto à “base aliada”. Aí, surge a pergunta, o que é a “base aliada”? A indagação é retórica. A assim chamada “base aliada” é um conglomerado de partidos, grupos, líderes, termos de interesses, que se uniram para manter e ampliar a participação no poder.

No primeiro governo da “Era Lula” havia a benesse dos mensalões e a novidade de uma composição política heterodoxa, que era costurada pela eminência parda que se chamava Dirceu e liderada por um Presidente carismático, hábil, de consistente enraízamento popular. No segundo quatriênio permaneceu a força do carisma presidencial ajudada por uma economia afluente que permitiu e permite uma margem de ação e manobra com políticas sociais simpáticas de transferência de renda e ampliação da inclusão de consideráveis parcelas da população ao universo de consumo. O poder manteve-se uno apesar da base de apoio ampla, que foi alimentada, sustentada pelo fatiamento de ministérios, empresas estatais, agências reguladoras, etc.

Agora, avizinha-se a alba do que chamaríamos de “Era Pós Lula” (na falta de melhor epíteto). O poder a ser empossado precisa também ser repartido para que haja paz entre os “companheiros” de campanha e de sustentação. Há que se repartir o “pão” da “República Pós Lula”. O PMDB sabe de sua força e do seu peso. Tem pouco ou quase nada a perder com eventuais dificuldades de gestão política da Nova Presidente. O PMDB tem o Vice, tem uma forte segunda bancada na Câmara e a primeira no Senado; tem entre outros o governo do Rio de Janeir; tem, enquanto conjunto de líderes regionais, um senso pragmático agudo. É um partido “sênior” e com certeza não vai se intimidar perante arroubos aloprados de concorrentes. O PMDB é acima de tudo um partido de centro que sabe se colocar no “centro” sempre que julga necessário. Além disso, tem uma boa dúzia de líderes, que embora um pouco patrimonialistas, são, talvez, por isso mesmo confiáveis. Agrupamentos menores da “base aliada” sabem que podem ficar confortáveis à sombra do irmão maior. O PMDB não é perigoso nem feroz. É uma fraternidade federada de patrimônios políticos.

Diante disto tudo, vejamos até quando ou quanto perdurará a sensação de continuidade nos tempos do “Pós Lula”. Quem, em algum momento, ainda achou que tal seria possível, vai começar a descobrir que já acabou.

Os que disseram à exaustão, durante meses, que a candidata agora eleita é a Sra. Dilma Roussef, nem foram ouvidos. O ufanismo dos 83% de aprovação embriagou corações, mas, quem olha com atenção a História e a própria experiência geral da humanidade sabe que unanimidades são, frequentemente, fátuas, instáveis, suscetíveis. Agora, aguardemos o amanhã.

Casa Forte, 18/11/2010
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

Post Scriptum: É importante destacar que demandas e acordos por espaço no governo, são fatos absolutamente normais em governos de coalizão. São ocorrências triviais nas democracias européias. No Brasil temos uma tradição consolidada de presidencialismo de coalizão. Foi assim em todos os governos desde 1955, com JK até hoje, com exceção do regime militar (ditaduras não precisam, necessariamente, de coalizão, vale a força e o medo que são impostos). Portanto, não há porque ser diferente agora. O que ocorre, aparentemente estranho, é que o PT, mesmo sendo minoria no Congresso, busca ser hegemônico no governo por ser o partido nominal da Presidente. Na realidade, o fato de ter a maior bancada relativa na Câmara não lhe dá força política suficiente para se apossar da maior parte do governo. Afinal, já tema chefia do executivo. Porém, quem conhece a prática petista sabe que com muito menos eles gritam por muito mais. Coisas da herança sindical e da auto-imágem ideológica de se acharem os iluminados da esquerda, paladinos da “classe trabalhadora”. Mas, isso é hipertrofia da autoestima. Uma quase patologia política que chamaríamos de síndrome da predestinação messiânica.

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