sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A GUERRA DO RIO III



- O Haiti não é aqui


A declaração do Comandante do Exército de que as tropas em ação nas favelas do Rio adotariam um formato de atuação semelhante ao das Forças de Paz no Haiti contém alguns possíveis equívocos. Embora concorde com a boa vontade do Comandante e com a sensibilidade em incluir preocupações com ação social e ação humanitária, nas localidades resgatadas, é preciso esclarecer que o Rio de Janeiro está indo muito longe de ser assemelhado ao Porto Príncipe e o “Complexo do Alemão” não é em nada parecido com a “Citée Soleil”. Por miseráveis que possam ser alguns segmentos de nossa população, não chegamos ao ponto de comer bolachas à base de um composto de argila e água. Isto é uma indignidade que infelizmente ocorre em “Citée Soleil”. No Haiti, o estado é uma quase ficção e além das Forças de Paz da ONU não existe escapatória. No Rio, o estado organizado é real, embora tenha desdenhado e desprezado as favelas como um entulho, um gueto social que é melhor fingir não pensar nele como parte da cidade.

Pois é, o vácuo de poder atrai um novo poder e foi assim que o narcotráfico e as milícias ocuparam o espaço deixado pelo estado. Isto pode e deve ser consertado com a ajuda fundamental das Forças Armadas. Agora, é bom não esquecer que quem vai conduzir com chance de êxito a reconstrução social e política das comunidades dos Complexos da Penha, do alemão e outros que carecem de resgate é, sem dúvida, a ação social e cidadã dos órgãos civis do estado e as demais instituições da sociedade civil. São estes que vão reerguer a autoestima à organização comunitária, à vida alegre e saudável que é indissociável do espírito carioca.

Neste momento, é de valor inestimável a presença de tanques, blindados, helicópteros, páraquedistas, fuzileiros, etc. Mas, o Brasil, Graças aos Céus, não é o Haiti e não devemos esquecer disto.

Casa Forte, 03/12/2010
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário