sábado, 29 de janeiro de 2011

EGITO, A DESINTEGRAÇÃO DE UM REGIME

Ou a marcha de Alarico no século XXI

O Presidente Hosni Mubarak enfrenta turbulência e insurgência crescente. Naquele pai não vigoram liberdades civis, tais como as compreendemos desde os tempos de Gamal Abel Nasser, que destronou o rei Faruk I, régulo ridículo colocado à frente do estado egípcio pela política míope de fazer títeres usada pelos ingleses desde os tempos do pós Primeira Guerra. E o atual, sucedeu Anwar al Sadat, que foi assassinado a tiros durante um desfile militar por integrantes do grupo “jihad islâmica” infiltrado no exército, no momento em assistia o desfilar das tropas.

Um fato insofismável é que o regime egípcio vem dando sinais de cansaço. A economia está sem horizontes. Os diversos grupos da sociedade estão quase todos insatisfeitos. O Egito tem uma classe média significativa bem informada, que apóia e se beneficia do estado laico, que é liberal em costumes. O governo, na prática, vitalício de Mubarak, que está no poder há quase trinta anos e faz parte da cadeia governantes que vem dos anos cinqüenta, apesar de, repito, laico é permissivo com os ataques e crimes brutais contra os cristãos, que são (no conjunto) 10% da população, em sua maioria coptas (palavra que vem grego e significa “egípcio”) de um patriarcado fundado por Athanásio. Os cristãos de todos os ritos estão situação muito periclitante no Egito.

Existe uma pressão de grupos islâmicos radicais que se opõem ao governo, existem também grupos reformistas pro ocidentais, que anseiam por democracia, liberdade de expressão, de organização, participação política, estes valores que não são costumeiros na região.

Todavia, há um outro problema. O suporte do atual sistema é o apoio do Ocidente. Eles recebem ajuda financeira anual regular dos Estados unidos. Ocorre, sem dúvida, uma interdependência de interesses. Não custa lembrar, neste momento, o evento de 1979 em Teerã. O Xá Reza Pahlavi era substancialmente sustentado pelo Ocidente. Perdeu base por motivos semelhantes e a oposição, em princípio, laica foi manobrada e hegemonizada pelo clero xiita (a facção “shiia”, que chamamos xiita tem uma hierarquia muito orgânica e disciplinada) e a queda da monarquia de tendência ocidentalizante deu lugar, já, de imediato, ao poder dos aiatolás. Komeíni foi o primeiro e, tinha atributos notáveis. Com anos de exílio na Europa, ele tinha um vasto conhecimento político, além da autoridade clerical. O resultado está aí. O Irã se tornou uma república teocrática, com elevado grau de autoritarismo e ameaça o equilíbrio geopolítico regional. Corremos o risco de uma quase reprise da História com agravantes perceptíveis.

O avanço dos distúrbios civis no Cairo, Asswan, Suez, Alexandria pode se alastrar de modo incontrolável. E o Egito não é a Tunísia. Mesmo com dificuldades econômicas tem musculatura em sua base estrutural e uma situação geográfica nodal. Controla Suez (passagem estratégica para o Índico), faz fronteira com Israel e vive uma situação de Ascenso de facções e grupos fundamentalistas islâmicos, agora muito estimulados pela conjuntura explosiva de insatisfação.

A turbulência egípcia é grave e pode ser a espoleta de detonação em cadeia no dominó geopolítico do Oriente Médio e de todo o Norte da África.

O amanhecer da nossa nova semana (a deles já começa hoje) pode nos trazer a notícia de uma “débâcle”. O Ocidente é responsável por inoperância e incompetência neste dominó de insurgência, que começou em Trípoli e sabe-se aonde irá terminar... Impérios têm muito poder e também, muitas responsabilidades que vão além de suas fronteiras.

Não custa recordar um pouco de história dos primeiros séculos de nossa era. Os godos de Alarico chegaram às fronteiras do Império Romano como aliados, quase refugiados de outras ondas de orientais. Tempos depois, estavam às portas de Roma e se pior não foi se deve a confissão cristã do próprio Alarico, que poupou Roma de maiores humilhações e esbulhos aos citadinos.

Mas, voltemos às responsabilidades imperiais dos principais chefes de estado do Ocidente e em especial, o Presidente dos Estados Unidos. Não existe como enfiar a cabeça na areia e fingir que nada de tempestuoso acontece. Pior, ficar numa pusilâmine indecisão recheada de declarações anódinas. Mais absurdo: incentivar e financiar ações de insurgência das quais não se tem nenhum controle ou perspectiva de viez político. Os americanos já deram este tipo de “tiro no pé” diversas vezes. Atitudes deste modelo abrem espaço para que grupos hostis ao Ocidente cresçam e se tornem inevitáveis. Até quando, vão ficar observando “a marcha de Alarico para Roma”?...

Casa Forte, 29/01/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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