terça-feira, 26 de julho de 2011

TESTEMUNHAMOS UMA LENDA:
A PRIMAVERA DOS DROMEDÁRIOS

Os últimos seis meses têm sido autenticamente revolucionários para o norte da África e todo o Oriente Médio. Primeiro, caiu à ditadura da Tunísia, depois, derrubaram Osni Mubarak no Egito e as multidões no Cairo já exigem impacientes o cumprimento das medidas políticas prometidas, enquanto a Irmandade Islâmica agora ousa exibir suas intenções em atos públicos próprios.... No Yemem, Abdulah Saleh está por um fio. Os rebeldes líbios estão às vésperas de marchar sobre Trípoli e Kadafi & filhos, provavelmente, acabam no banco dos réus de um tribunal da comunidade internacional por genocídio. Na Síria, Bachar Assad tem graves problemas e vem sendo amaldiçoado pelos americanos e franceses. Com a pressão interna dos insurgentes sírios e externa das potências ocidentais, as forças leais ao governo perdem toda a força geopolítica. Sobra apenas o Irã teocrático, convivendo com o descontentamento de grande parte da classe média do país e com os curdos do norte esfregando as mãos, torcendo pela trincagem do regime dos aiatolás. Até no Sudão, o sul de maioria cristã acaba de ganhar independência.

A entente de uma “jihad”, por concepção fanática, por enquanto, está adiada. Porém, ainda há muito que fazer. Esta primavera, que já se inscreve nos anais das lendas realizadas, mostra mais uma vez, que o inimigo não é o islã. Os filhos de Ismael sempre estarão entre nós e armarão suas tendas em frente a Israel. O verdadeiro inimigo está no fanatismo celerado que usa o fundamentalismo e a xenofobia como ferramentas mobilizadoras. As “irmandades” e confrarias de ideal teocrático são mal a evitar.

Todavia, o ânimo motivador desses dromedários heroicos vem de anteontem. Vem da esperança de bem estar e de liberdade, dos ideais pós-modernos tão malhados pelos reacionários de todos os matizes.

É por demais conhecida a afirmação de que a liberdade somente se mantém pela perene e severa vigilância aos golpes e tramas de seus algozes. No entanto, em um tempo tão instável de bolhas e crises econômicas, de iminência de moratórias, de insensatos radicais brincando de durões, é bom sentir os ventos desta primavera.

Casa Forte, 26 de julho de 2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 – cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

Em tempo: O adiamento das eleições parlamentares no Egito, por alguns meses, pode ser uma medida positiva ao possibilitar uma melhor organização de partidos políticos e da sociedade civil. Em décadas de ditadura, o que sobrou mais articulado, além da corporação militar, foi a organização religiosa. A “Irmandade Islâmica” foi fundada em 1928, ainda no tempo do protetorado sob o comando dos ingleses e está, apesar de ainda discreta, pronta para hegemonizar o processo político, atuando de forma suprapartidária. Aparentemente, os militares, mesmo não tendo vocação democrática, tentam garantir a sobrevivência de um estado laico. Eles sabem que se algum projeto teocrático lograr êxito vão ser suplantados e eventualmente garroteados sem possibilidade de reação viável. O estamento militar, enquanto corporação é menos eficiente em médio prazo que instituições religiosas. Não era a toa que os imperadores romanos, tendo o comando militar nas mãos, não descuidavam do culto aos deuses tradicionais e o próprio Constantino ao inverter a polaridade religiosa e instituir o cristianismo como religião oficial, o fez mostrando sensibilidade à nova fé que tinha mais capilaridade no meio das massas do império. Do mesmo modo, a monarquia inglesa nunca afrouxou os laços com a Igreja Anglicana, da qual a rainha é a chefe. Além de dezenas de exemplos históricos que podem ser citados. A citação dos exemplos não defende a promiscuidade do poder com a religião. Apenas sublinha a importância das organizações religiosas em todas sociedades e a necessidade de respeitosa separação entre as instituições do poder e as que cuidam da fé.


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