terça-feira, 17 de janeiro de 2012

COPA:
VAIDADE, CIDADANIA, SOBERANIA NACIONAL E
A “FEBRE DO RATO”


Muito se fala dos preparativos da “Copa de 2014”. Desde os laudatórios xaroposos, discorrendo sobre as toneladas de cimento e aço gastas nas numerosas “arenas” construídas e reformadas por este país a fora, até acirrados debates sobre a revogação de dispositivos legais de proibição da venda de bebidas alcoólicas e da garantia social de “meia entrada” para idosos, deficientes e estudantes.


Falar bem das obras da “Copa” virou redação oficial. Delongar-se sobre os empregos diretos e indiretos que são criados, é como anunciar um “Eldorado” da construção civil e isto inclui rasgar avenidas e erguer viadutos, ampliar aeroportos, etc. Tudo fica pela conta do “PAC”, um programa de gastança que as empreiteiras babam de prazer e volúpia.


Bem, esta delirante “febre do rato” que assola o país é alimentada por uma bolha econômica que tem a ver com lucros fáceis de exportação de “comodities”, renúncia fiscal seletiva, crédito ao consumidor escancarado e outros ingredientes desta torta financeira. E aí, o peito infla. Já viramos a sexta economia do planeta. Somos maiores que os ingleses (será?...) mas, não damos conta de nossas fronteiras.


É neste ponto que se observa que a vaidade pode ter brilho auriverde, mas, se equilibra em uma grande bola inflável, que não tem cor.


Este orgulho fátuo de sermos alvos de todos os holofotes no esporte onde somos pentacampeões, com o país enfeitado de penduricalhos de concreto armado tem um preço, que inicia sua cobrança lá no Congresso, quando se discute a quebra de conquistas obtidas após anos de mobilização, que pode abrir precedente para a perda destes avanços na inclusão e respeito aos segmentos sociais deliberadamente assumidos pela própria sociedade de modo soberano e democrático através dos poderes da república.


Agora, a pressão da FIFA e de fabricantes de bebidas tenta dobrar o Congresso Nacional com a conivência tácita do poder executivo. Isto não pode ser debitado, de modo simplista, da globalização, nem de um suposto pragmatismo. É uma questão clara de autonomia legal, soberania nacional e respeito a valores e peculiaridades sociais.


Os idosos, deficientes e estudantes devem ser respeitados na integridade de seus direitos. Não basta fazer discurso simpático de apelo nacional e arrematar com arrazoados desenvolvimentistas de quinta categoria, exibindo fotos de canteiros de obras. Esqueletos de concreto armado podem até marcar monumentos, porém, não constroem valores e estes, sim, galvanizam nações.


Portanto, vamos, quem sabe, até o “hexa”, todavia, sem esquecer o que somos e que civilização queremos erigir.


A vaidade histérica das massas manipuladas, narcotizadas por bolhas brilhantes de consumo, têm vocação para a insensatez.


A cidadania democrática, vigilante é um antídoto eficaz para esta “febre do rato” de estultice.


Casa Forte, 18 de janeiro de 2012

Marcelo Cavalcanti

(81)93195627 -cavalcantimarcelo1948@hotmail.com




“Post Scriptum”: Enquanto isto, para a “nova classe média” é servido um “pettit gateau” com a farinha do “minha casa minha vida” , o açúcar da “linha branca” com preços artificialmente reduzidos, a manteiga do crédito fácil e a anilina vermelha para dar aparência revolucionária. Tudo não passa de ópera bufa. A carga fiscal continua das mais altas do mundo, o “custo Brasil” é padrasto para o produtor e o preço do crédito, governado pela taxa “selic”, permanece em dois dígitos. A manobra heterodoxa faz jogo de cena e mantém o figurino keynesiano: contingência para os gastos públicos e faz intervenção arbitrária do estado na economia da sociedade. Contudo, ainda assim, talvez sejamos hexacampeões, graças ao brilho real de pequenos gênios do esporte como Neimar ou o já veterano Ronaldinho.

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