quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

QUEREM DETONAR

O MAIS IMPORTANTE TEMPLO PROTESTANTE DO RECIFE
Ontem e hoje: truculência e devastação em nome do “progresso”


Esta ameaça lembra uma outra história dos idos dos anos 60, quando o então prefeito da capital, Augusto Lucena, resolveu abrir a Av. Dantas Barreto rumo à Praça Sérgio Loreto e a Av. Sul, que também era uma ficção e era o que se podia chamar de um traço entre alhures e lugar nenhum. Não é a toa que até hoje é uma via subutilizada, um exemplo de irresponsabilidade no gasto da pecúnia do município, além de ser um “non sense” urbanístico ao destruir a coesão e unidade do bairro de São José, que foi ferido mortalmente como comunidade tradicional do centro da cidade. Na ocasião, para perpetrar o atentado, foi destruída a Igreja dos Martírios, um monumento e patrimônio histórico e arquitetônico da cidade. O clamor de intelectuais e artistas do porte de Gilberto Freyre não parou a mão do burgomestre que não temia o arcebispo da época, D. Helder Câmara, pois este se opunha à ditadura, então em pleno vigor, e o prefeito estava encastelado no mandato como herdeiro direto do “Golpe de 64”. Foi assim que fizeram aquele rasgo de concreto de pouca serventia e carregado de empáfia autoritária.

Agora, o que faz lembrar este exemplo de inépcia misturada com soberba e estupidez administrativa? É simples. A ameaça de reincidência quase meio século depois. Pois é, com esta onda, há quem diga, tsunami de construções viárias sob pretexto da “Copa”, estão querendo fazer mudanças na Av. Agamenon Magalhães, à altura da `Praça Pastor Munguba Sobrinho, que, se efetuadas, vão descaracterizar toda a paisagem urbana do local e mais, vão destruir todo o visual arquitetônico do templo da “Igreja Batista da Capunga” e seu entorno. Além disto, é uma ação iconoclasta espúria no sentido literal da expressão e ofende aos cidadãos, independente das crenças de cada um.

Para os pouco informados (e governantes não têm o direito de serem mal informados – é incompetência mesmo), aquele edifício é um projeto neoclássico colonial norte-americano, importado de Richmond, Virgínia nos anos 50 do século passado, com a incorporação de elementos ecléticos significativos. Demolir, esconder ou massacrar visualmente todo aquele testemunho de uma cultura representativa de um segmento sócio-religioso de vulto na História do Recife é um crime contra a cidade e contra a História dos Batistas no Brasil.

Pessoalmente, não tenho afinidades doutrinárias com os batistas, mas, conheço a História porque tenho raízes culturais e familiares entre eles. Assim, como, milhares e milhares, fui batizado na pia batismal daquele templo. Recebi catequese e ensinamentos religiosos naquelas salas, na “escola dominical”, ouvi naqueles átrios, sermões quase eruditos do professor ilustríssimo de teologia e pastor José Tomás Munguba Sobrinho, do também prof. Merval Rosa e depois, se sucederam, na frente daquele púlpito, nomes do porte de José Guimarães, Manfredo Grelert e do atual titular, Ney Ladeia, que é um dos líderes do Movimento Batista no Brasil.

Como todos sabem (e que não reste dúvida) sou de confissão católica por decisão pessoal, espontânea, assumida na minha maturidade. Todavia, esta distância de doutrina não esmaece o respeito e a admiração por este agrupamento neoluterano, que tem valores e vasto cabedal moral, que contribui para a boa fibra de nossa sociedade.

Assim sendo, quero declarar a minha solidariedade ativa e (se pre3ciso) militante aos integrantes da “Igreja Batista da Capunga”, que são constrangidos pela ameaça de ter o produto arquitetônico do esforço de gerações, literalmente detonado por um monstrengo de concreto armado de eficiência urbanística duvidosa, por vontade esdrúxula de governantes aloprados, que nem se lembram da lição desastrosa da “Igreja dos Martírios” levada a cabo pelas mãos sacrílegas de um lídimo filhote da ditadura.

Em tempo: Se algum preposto dos governantes em questão tiver a desfaçatez de balbuciar o argumento de que os atropelos e desastres advindos de tal projeto, são parte do preço a ser pago pelo “progresso”, devem receber como resposta um rotundo não. É impossív3el pensar o dito “progresso” de uma cidade em frontal desacordo e em conflito com a história, a vida e as instituições da sociedade que nela habita. No passado, lá na República Velha, houve um presidente que afirmava (se achando sábio) que “governar é abrir estradas”. Ele acabou deposto.
Casa Forte, 18 de janeiro de 2012

Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 – cavalcantimarcelo1948@hotmail.com
http://www.politicamenteatrevido.blogspot.com/
















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