A PROPÓSITO DAS CHUVAS TORRENCIAIS DA
SEMANA PASSADA NO RECIFE
Praça Sérgio Loreto com mais de 50 cm de altura na lâmina de água em imagem do "G1"
O problema das águas e das chuvas no Recife, podemos até chamar de
drama, com realismo, é mais que endêmico, é histórico. Somos Pernambuco,
de“paranabuco”,ou seja, “terra que pertence às águas”, ou ainda, “paranabuka”,
“furo de mar”. Está na nossa raiz onomástica a contradição entre o domínio das
águas e preeminência da terra firme.
Grande parte do bairro da Boa Vista foi produto de aterros. Do
mesmo modo, subúrbios como afogados, Beberibe, Santana (que hoje virou um anexo
de Casa Forte), os próprios bairros de Casa Forte, Parnamirim, Torre,
Imbiribeira, Monteiro, Iputinga, entre outros, tiveram grande parte de seus
terrenos conquistados por aterramentos de grande extensão.
Contudo, evidentemente, isto não justifica, que com quase
quinhentos anos de processo civilizatório não tenhamos, ao menos, um projeto de
solução permanente em fase de implantação.
O que se fez nas décadas passadas, com a construção de barragens e
redesenhamento do vão de algumas pontes, aliviou o risco de inundações
fluviais, mas, as enchentes das retenções pluviais combinadas com marés de
maior pico, não foram tratadas de forma preventiva.
Assim, a realização de obras de drenagem periódica, fiscalização e
coibição dos inúmeros esgotos clandestinos que contribuem para assoreamento dos
leitos de rios e canais (especialmente, o Derby-Tacaruna), além da execução
rigorosa de medidas legais de uso do solo urbano para manutenção de lençol
freático e das várzeas, que constituem o leito secundário dos rios e cursos
d’água, são e devem ser preocupação primordial do poder público.
De igual modo, a contribuição da população, exercendo uma
cidadania responsável e solidária, não jogando nas vias hídricas toda sorte de
lixo e resíduos sólidos tem fundamental importância para que o escoamento
d’água não se transforme em inundação por obstrução dos caminhos próprios.
Na verdade, o que se observa é que os caminhos para soluções, que
evitem transtornos urbanos para a capital, são menos obras de engenharia e mais
decisão política e administrativa que preserve a boa capacidade de vazão
pluvial. Isto sim pode fazer a cidade sustentável. Neste aspecto, a legislação
é de competência municipal, principalmente, a Lei de Uso do Solo Urbano, que
determina quando e aonde pode haver intervenção urbana.Todavia, a discussão deste problema de ocupação do solo urbano exige uma postura política muito firme e independente. As leis municipais da capital já foram modificadas muitas vezes, ao longo das ultimas décadas, para atender aos interesses da especulação imobiliária. O resultado se reflete no estrangulamento da mobilidade urbana, etc.
Recife, 23 de maio de 2013
Marcelo Cavalcanti(81)93195627
www.politicamenteatrevido.blogspot.com
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