TENSÃO NO ENTORNO DO ESTREITO DE BÓSFORO
ISTAMBUL, PRAÇA TAKSIM: ALI A LIBERDADE SE ERGUE
La liberté, Eugene Delacroix
Desde
a fundação da moderna República Turca em 1919, que foram estabelecidos gatilhos
e elaboração das ferramentas de garantia de um estado laico. Apenas para que se
entenda a preocupação com o laicismo, até mesmo golpes de estado são
autorizados pela constituição para que não haja risco de teocratização do
estado turco.
Entretanto,
o atual premier encarcerou um em cada oito generais turcos para
estrangular o poder militar, que lá é sinônimo de pilar republicano.
Talvez,
para nós, seja difícil de entender, mas, em um viés específico do Oriente
Médio, garantir um estado laico é um meio de ter direitos civis preciosos. Não
ter transcritos nos códigos legais do país, preceitos como a “sharia” é de um
valor imenso quando se vive em uma sociedade em perene estado de ameaça por
valores ultraconservadores, que estão bem ali, na esquina, no outro quarteirão,
no bairro periférico repleto de egressos do interior, das aldeias, onde se vive
uma religiosidade próxima do fundamentalismo.
Todavia,
para que se entenda ainda melhor a ebulição tão saudável que vimos, nestes
últimos dias, em Istambul é preciso que se perceba que a população urbana,
jovem de cidades como Istambul e Ancara têm valores, costumes, hábitos e
sonhos próprios do mundo ocidental, são eivadas de um
espírito cosmopolita. Isto é uma contradição indigesta, porém, não é
insuperável.
No
passado, já houve califados como o de Córdoba, na Espanha, onde havia uma forma
de despotismo esclarecido, que preservava a pesquisa científica e matemática,
onde havia franco desenvolvimento da arte literária e da arquitetura. Nessas
sociedades havia tolerância com as minorias, que muitas vezes, ali se
refugiavam para se proteger de algozes externos de grande ferocidade, como a
“Inquisição”.
Portanto,
as manifestações e consequentes confrontos entre cidadãos, predominantemente
jovens, indignados, democratas e laicistas e, do outro lado da barricada, a
polícia sob ordens do governo encabeçado por uma espécie variante turca da “irmandade
muçumana” , sem dúvida, é um fato cheio de significado.
A
imagem do cadeirante empunhando uma bandeira tuca, republicana e enfrentando a
fúria policial é emblemática. Lembra, de algum modo, o painel de Eugene Delacroix
, que retrata a liberdade em uma batalha heroica.
Recife, 13 de junho de 2013
Marcelo Cavalcanti(81)93195627
www.politicamenteatrevido.blogspot.com
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