quinta-feira, 13 de junho de 2013

ISTAMBUL, PRAÇA TAKSIM, ALI A LIBERDADE SE ERGUE



TENSÃO NO ENTORNO DO ESTREITO DE BÓSFORO
ISTAMBUL, PRAÇA TAKSIM: ALI A LIBERDADE SE ERGUE
La liberté, Eugene Delacroix
 
Desde a fundação da moderna República Turca em 1919, que foram estabelecidos gatilhos e elaboração das ferramentas de garantia de um estado laico. Apenas para que se entenda a preocupação com o laicismo, até mesmo golpes de estado são autorizados pela constituição para que não haja risco de teocratização do estado turco.

Entretanto, o atual premier encarcerou um em cada oito generais turcos para estrangular o poder militar, que lá é sinônimo de pilar republicano.

Talvez, para nós, seja difícil de entender, mas, em um viés específico do Oriente Médio, garantir um estado laico é um meio de ter direitos civis preciosos. Não ter transcritos nos códigos legais do país, preceitos como a “sharia” é de um valor imenso quando se vive em uma sociedade em perene estado de ameaça por valores ultraconservadores, que estão bem ali, na esquina, no outro quarteirão, no bairro periférico repleto de egressos do interior, das aldeias, onde se vive uma religiosidade próxima do fundamentalismo.

Todavia, para que se entenda ainda melhor a ebulição tão saudável que vimos, nestes últimos dias, em Istambul é preciso que se perceba que a população urbana, jovem de cidades como Istambul e Ancara têm valores, costumes, hábitos e sonhos  próprios  do mundo ocidental, são eivadas de um espírito cosmopolita. Isto é uma contradição indigesta, porém, não é insuperável.

No passado, já houve califados como o de Córdoba, na Espanha, onde havia uma forma de despotismo esclarecido, que preservava a pesquisa científica e matemática, onde havia franco desenvolvimento da arte literária e da arquitetura. Nessas sociedades havia tolerância com as minorias, que muitas vezes, ali se refugiavam para se proteger de algozes externos de grande ferocidade, como a “Inquisição”.

Portanto, as manifestações e consequentes confrontos entre cidadãos, predominantemente jovens, indignados, democratas e laicistas e, do outro lado da barricada, a polícia sob ordens do governo encabeçado por uma espécie variante turca da “irmandade muçumana” , sem dúvida, é um fato cheio de significado.

A imagem do cadeirante empunhando uma bandeira tuca, republicana e enfrentando a fúria policial é emblemática. Lembra, de algum modo, o painel de Eugene Delacroix , que retrata a liberdade em uma batalha heroica.

Recife, 13 de junho de 2013
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627
www.politicamenteatrevido.blogspot.com

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