DEMOCRACIA
É CONVIVÊNCIA DO CONTRADITÓRIO
Jovens experimentando o gosto das ruas no Recife
Alguém já dizia há mais de um século, que a roda da
História, as vezes, avança um século em poucos dias. No momento assistimos a um
tsunami de eventos irredentistas. Xingamentos , vaias e mobilizações com
direito a manifestações em rede nacional e articulações virtuais.
O Brasil não será o mesmo em 2014. Supõe-se também, que após
esta onda rebelde, a sociedade tomará rumos de ampliação democrática,
melhorando a inclusão política dos diversos segmentos da população.
O movimento, nitidamente, de massas tende a aumentar de
volume e evoluir com mais bandeiras. Todavia, os reflexos são, ainda,
indistintos.
É nesta indistinção que moram as dúvidas e apreensões. O
regime democrático e republicano pode ficar vulnerável como consequência de
um descontentamento generalizado. A
conjuntura de arrepio político está arando um campo fértil, onde podem germinar
sementes de maior participação, ou, de radicalização sectária com consequências
imprevisíveis.
Assim, segue-se a postagem de dois textos que ficaram mornos
diante da avalanche de ocorrências, por mais candentes que fossem os fatos
comentados.
CRÍTICA DEMOCRÁTICA NÃO É TERRORISMO
Pois é, um dos princípios basilares da democracia moderna é
a saudável convivência, minimamente, fraterna entre díspares.
O amálgama social de partes heterogêneas, a interação entre
correntes de opinião, a manifestação livre de ideias e de visões sobre fatos, e
em particular, sobre procedimentos do poder estabelecido são sinais de alto
nível de realização democrática. O contrário revela deterioração da pluralidade
política, o que equivale a sintomas de tentação totalitária.
Chamar opiniões discordantes de “terroristas”, do púlpito do
poder, é uma atitude prepotente, que mostra traços políticos deletérios. Na
verdade, o que vem sendo denunciado é que a economia está em crise, que a
inflação voltou e ao lado dela está a alta cambial rebelde; o nível de
investimento baixíssimo; o PIB quase estagnado e os índices de confiança na economia em queda livre. E
mais, mercado interno com sinais de saturação; ausência de competividade e
inapetência na expansão do mercado externo, agravado pelo fastio recente da
China na compra de comodities e a estiolação de um Mercosul degradado por
desentendimentos produzidos por uma anti-política de comércio exterior.
Bem, se estes fatos
são ruins para a popularidade dos governantes, paciência, que governem melhor.
No caso dos atuais ocupantes do Planalto, já tiveram bastante tempo e chance de
mostrarem competência. Agora, os resultados ameaçam atropelar e exaurir os
dividendos de dez anos de populismo demagógico que começa a fazer água e p´~oe
em risco sonhos continuístas.
Isto chama a atenção para uma segunda observação. Ao ser
apontado em sua inépcia econômica, o governo mostra nítido desconforto e tem
reações de intolerância perante seus críticos, mas, discursos ofensivos, de
dedo em riste, não mudam de forma mágica a realidade.
A inflação voltou, sim, e não vão ser medidas sacadas do
poeirento baú populista, que vão deter esta vilã do bolso do assalariado e do
pobre em geral.
Assim, reafirma-se que a democracia é a convivência
respeitosa com o contraditório.
Usar a tribuna do poder para impor a opinião oficial,
insultando os discordantes como “terroristas”, isto sim, é um caminho de
perdição.
A imposição do discurso por quem detém o poder, como
expressão única da verdade, revela um caráter autoritário e, isto sim, merece a
execração pelos amantes da democracia e da liberdade.
Recife, 15 de junho de 2013
VAIAS NO ESTÁDIO,
A Classe média dizendo NÃO
Foi sábado à tarde, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília,
instantes antes do jogo do Brasil, mas, o público, ali, era eminentemente de
classe média e, em grande parte, da nova classe média, emergentes bem sucedidos
que, agora, veem suas conquistas ameaçadas pela inflação e redução do
crescimento econômico.
Quem surfou nas ondas da mobilidade social e chegou em um
patamar que lhe permite pagar ingressos da “Copa”, ou mesmo, já vive em
estratos sociais forrados de abastança há muito tempo, não quer se ver jogado
de ladeira abaixo, perdendo poder de consumo.
A classe média não deixa barato, pois não é estacionária,
quer sua ascensão garantida. Além disso,
esses torcedores são bem informados e não vivem ancorados em programas de
transferência de renda.
Muitos dos que gritaram vaias, talvez a maioria, foram
eleitores daquela que, agora, é objeto de reprovação. Sem perspectiva de
prosperidade, não há escapatória. O governo petista seduziu a opinião pública
com a promessa mítica de progresso e mobilidade social. Agora, a conta está
sendo cobrada, inclusive, aos gritos nas ruas.
Fica aí, pelo menos, uma lição de humildade para quem, numa
atitude intemperante, chama seus críticos de “terroristas”.
Recife,
18 de junho de 2013
Marcelo
Cavalcanti
(81)93195627www.politicamenteatrevido.blogspot.com
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