O GRITO
PODE FICAR ROUCO
Primeiro,
algumas bandeiras, dos manifestantes, foram e serão contempladas e negociadas.
Isto pode levar a arrefecer a motivação, ou dar mais autoconfiança e, deste
modo, aumentar a mobilização. Isto é uma caixa de pandora.
Em
segundo lugar, a permanência em tensão, por tempo prolongado, gera desgaste na
capacidade de mobilização.
Em
terceiro lugar, a ausência de organização definida e de polarização
programática faz e fará com que o movimento deambule sem rumo definido, assim
como, ocorre como quando estão em massa nas ruas. Desta maneira, após algumas
conquistas, não se sabe quais as definições que serão assumidas pelo grande
coletivo, que se articula por meios virtuais e se colocam em quase confronto
com as instituições do estado, que têm espaço de manobra a médio prazo.
Todavia,
as seqüelas políticas serão irreversíveis. Entre elas, o descrédito dos que
encarnam a liderança do poder político estabelecido. Na verdade, a exposição
por exercício da gestão do estado, em estrito senso, traz proporcional
vulnerabilidade política.
E mais,
ainda que bandeiras partidárias sejam rechaçadas e mesmo escondidas, a presença
de militantes organizados, ocupando espaço em São Paulo, Rio de Janeiro e
outras cidades é muito perceptível. Partidos e grupos de esquerda radical,
descolados do governo, encontram neste
movimento flamejante uma fonte caudalosa dede capilaridade. Com certeza,
colherão dividendos, porém, isto não é mau, pois desidrata a esquerda
tradicional, que sofre o desgaste do poder e dos descaminhos de ações políticas
erráticas e visível artrose ideológica.
Portanto,
busquem a adesão de contingentes sindicalizados. Seria um golpe político
contundente na esquerda que mora no poder. Não foi a toa que, esta semana,
lideranças da CUT, CTB e Força Sindical se reuniram no “Instituto Lula” com o
ex-presidente Luiz Inácio. Ele mesmo, ex sindicalista, sabe que é ali que mora
o perigo. O governo quer blindar o movimento sindical. Os chamados “movimentos
sociais” organizados do tipo MST, Sem Teto, além de entidades como UNE e
outras, que são dirigidas por partidos que as aparelham, ocupam ou sócios do
poder, não aparecem. Foram escanteados e não têm espaço político. Foram vaiados
expulsos das manifestações públicas.
Os manuais
leninistas não previam a classe média como protagonista destacado de
mobilização política radical e consistente e, mais ainda, mobilização de
emergentes. O chamado “marxismo-leninismo” foi formulado a partir da lógica da
miséria. O hino da “Internacional” declara enfático: “Erguei-vos famélicos do
mundo!”... O mundo mudou. “La ancient gauche garde La chambre”.
A
ironia francesa é proposital. Mas, nem tudo é inépcia política. Marx escrevia
em uma de suas cartas a Dr. Kuguelman: “Ah...esses jovens que tentam assaltar o
céu”... em uma alusão aos revolucionários da Comuna de Paris, uma insurreição
urbana na capital cultural e econômica do mundo de sua época.
Bem,
que nossos jovens abram caminho para um Brasil melhor e ais saudavelmente
democrático.
Recife
22 de junho de 2013
Marcelo
Cavalcanti
(81)93195627
www.politicamenteatrevido.blogspot.com
Post Scriptum: Mais de um milhão de pessoas foram às
ruas, em cerca de 120 cidades, O fato é um exemplo, faz escola, mostrando que é
possível confrontar os “camaradas comissários”, que ocupam o poder. Mesmo
plantando agentes provocadores para semear tumulto nas manifestações, o que tem
sido mais que evidente, os “camaradas” não conseguiram esfriar o ânimo da
gigantesca multidão que resolveu mostrar o descontentamento e indignação
perante a incompetência e descaso dos
governantes. O percebeu que não é obrigado a ser conformista só porque existe a
chantagem política das “bolsas populares”. Grupos de sindicatos de professores
e outras categorias, que não foram aparelhados por partidos no poder, aderem ao
movimento e isso dá mais vitalidade aos protestos, já apelidados pela imprensa
internacional de “tropical spring”(primavera tropical). Que o verão traga
frutos de democracia e liberdade.
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