A POESIA DO DISCURSO VAZIO
Vivemos uma época em que é moda o uso do discurso, por assim dizer, de contato tão etéreo com o mundo real, que as vezes, pode-se chegar a conclusão errônea de que ele carece de substância . Afinal, depois de oito anos ouvindo uma mistura de metáforas futebolísticas toscas, intercalando cenas de atentados dramáticos à nossa gramática, tudo vociferado em tom rascante, perdigotos ao ar, enquanto a baba escorria pelo colarinho suado, gorduroso, pois é, depois de termos sido azucrinados, por anos a fio, por infamantes ataques aos princípios comezinhos da Educação , com afirmações do tipo, "estudar pra que? eu não li um livro e cheguei lá"... Agora (eu já escrevia sobre isso no limiar de 2011) a tônica é outra. Não dá, no entanto, pra ter saudade do grotesco agressivo que desdenhava de nossa inteligência, contudo, a relação diáfana com a realidade que permeia o discurso oficial nos dias de hoje é quase poética, ou, poderíamos dizer... patética.
Um auditório de duzentos milhões, moradores daqui e de alhures, ouviu perplexo as propostas genéricas e inexequíveis que intencionavam responder aos reclamos veementes gritados a partir das ruas brasileiras. Foi o eco do nada, depois de mais de uma quinzena de debates e intrigas para se chegar à conclusão de que tudo era uma esdrúxula quimera, produto de conversas delirantes com um marketeiro desvairado.
O país navega à mercê de palavras nascidas num vácuo de competência, que ressoam à deriva num espaço, ou , quem sabe, numa dobra do espaço-tempo, onde não se acha nem matéria escura.
O que resta mais próximo são imagens, de baixa resolução, de uma suposta oratória antiamericana perante companheiros chefes de estado, principalmente, de um certo ex-cocalero que virou presidente de uma república sul americana.
Assim aprecia-se, ou, desaprecia-se esta moda poética, que fala a partir de tudo e quase nada diz, num discurso sobre um imenso vazio...
Recife, 14 de julho de 2013
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627
www.politicamenteatrevido.blogspot.com
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