quarta-feira, 28 de outubro de 2009

PARQUE DA JAQUEIRA:
POVO DO RECIFE VERSUS BUROCRACIA DE BRASÍLIA
Nos idos dos anos 70, o entorno da "igrejinha da Jaqueira", como era conhecida a capela bicentenária, não passava de um sítio há muito devoluto, que foi usado até como local da extinta "FECIN - Feira de comércio e Indústria do Nordeste" com direito a roda gigante, carrossel e correlatos. Em 1983, Joaquim Francisco assumiu a Prefeitura e apesar do mandato curto (3 anos), ainda teve tempo de transformar o enorme matagal cheio de lama e árvores frondosas em um parque amplo com planta arquitetônica para multi uso.
Muito aconteceu de lá pra cá. Alguns fatos são emblemáticos. Entre eles as apresentações da Orquestra Sinfônica do Recife, criando o hábito, popularizando concertos de parque. destaque para a regência do emérito Diogo Pacheco. Não dá pra esquecer igualmente o espetáculo de Lenine e Marcos Suzano. Depois, em boa medida, aboliram-se shows no Parque em respeito aos milhares que vão ali relaxar, passear, namorar, assistir missas e praticar o delicioso exercício de não fazer nada, ouvindo o canto dos pássaros, embevecidos com o aroma das flores dão colorido às árvores.
Pois é, depois de vinte e cinco anos de de serviço à cidade, sendo visitado por casais, solteiros, famílias numerosas e grupos diversos de todos os bairros e subúrbios do Recife, agora, surge um burocrata atoleimado (assim digo em benefício dele) que quer reaver, por artes de alguma chicana de processo jurídico, entronado como preposto da "Previdência Social", o nosso muito querido Parque da Jaqueira.
Provavelmente, este insigne preposto, nunca viu ou avistou o Parque da Jaqueira, nunca entrou na Capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, nunca ouviu o eco de centenas de fiéis liderados pelo Padre Ivan, entoando "deixa a luz do Céu entrar"... às sete da noite de um domingo alegre de verão e também, não percebeu aquele canto suave e cálido se enovelando no riso das crianças, no ciciar das confissões românticas dosa namorados espalhados pela grama.
Ah... como é amargo pensar no pior: a desaparição do Parque. Até o Capibaribe, que passa ali pertinho, apenas a quinze metros, iria verter lágrimas em seu leito manso. Apelo, antes de destilar minha indignação, a um mínimo de sensibilidade. Vossa Excelência, que, lá do Planalto, gosta de repetir que é pernambucano, dá um puxão de orelha no burocrata que cometeu tal estultícia (a gente vai fingir que as metáforas do discurso são brilhantes). E senhor burocrata da Previdência, tenha um instante de doce humanidade, olhe o dourado das acácias, o rubro dos flamboyants destacando-se dos verdes pluritonais... ouve, ouve as vozes e "deixa a luz do Céu entrar"...
Casa Forte, 28/10/2009
Marcelo Cavalcanti

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