quinta-feira, 19 de novembro de 2009

ELE ERA DAQUI, DE UM RECIFE DE AINDA ONTEM
E NO ENTANTO......

Seu nome:Carlos Pena Filho, poeta, urbano cidadão do seu tempo, cronista crítico de costumes de sua época, porém sempre sem perder um certo "spleen" que lhe conferia uma tênue fleuma.

Foi a expressão mais forte, de uma sensibilidade própria, da geração pernambucana pós segunda guerra. Olhava o mundo por um viez de crítica e afeição. Não se perdia em devaneios, mas, se permitia sobrevoar o imaginário de sua época, que ele sabia ser um tempo rápido, de um ritmo célere e controverso. Essa urgência temporal se derramava em seus versos cingidos do melhor de Boudelaire. Aliás, Carlos Pena, sem jamais se mostrar pedante, exalava intimidade com o melhor do jeito francês de ver a vida e o cosmos. Fosse a reflexão proustiana ou a poesia iluminada e sem desvãos radicais do citado Charles Boudelaire.

Em plena época de carrões americanos ainda misturados a bondes elétricos na Rua Nova, Imperatriz e Avenida Guararapes, onde se fazia ponto no Savoy, Nicola, ou mesmo, Sertã, nosso poeta lançava os olhos ao céu tropical tão bem refletido num Capibaribe afivelado de pontes e então, enchia de azul seus versos de aparente circunstância.

Assim, as vezes atravesso, noturnamente, a Ponte Duarte Coelho, rumo a uma Guararapes soturna, que pouco guarda do "glamour" que lhe envolvia o semblante moderno do século XX e então, sou assaltado por lembranças do que se discutia outrora: "sputnick", Adenauer, construção de Brasília, eleição de Cid Sampaio, a novidade que era a transformação da Rua Formosa em Avenida Conde da Boa Vista, Pernambuco falava para o mundo...

Os sons do piano da "Estoril", melodiando "Rosa Amarela" de Capiba, evidenciam a fugacidade do tempo, a inescapável tendência que temos de ser reduzidos a testemunhas de seus passos, seja na calçada de pedras portuguesas da Rua nova dos anos cinquenta ou num estreito boulevard parisiense no final do século XVIII.

O que impressiona pela atmosfera fugidia nessas noites, que não se definem como que de propósito, são os marcos comportamentais. Ao invés de Buicks, Oldsmobiles, pontiacs, o que vemos são grupos de jovens, que passam em pequenas ondas em direção à Rua da Moeda transformada em "boulevard" alternativo na busca de um areópago boêmio. O artesanato dos trajes e a releitura estética dos penteados de inspiração afro dão o tom. Mesmo assim, não são imunes às novas modas e acabam por mostrar uma via local dos caminhos da pós modernidade. São leves e fugazes nos seus intentos como uma passante às cinco da tarde, em frente às Lojas Etam ou Casa Sloper, na esquina da Rua da Palma com a já referida rua Nova, ali, bem próximo ao Cine Art Palácio, onde, quem sabe?... estaria em exibição "O Homem Que Sabia Demais" em que Doris Day gravou em nossa memória seu cristalino "hai-lili-hai-lô"... e que em alguma cena Hitchcock mostrava rápido seu rosto, colocando uma rubrica autoral no clássico mais típico do estilo pitoresco minimalista do pós guerra.

Sinceramente, nem era preciso descer a tantos detalhes, mas, tudo isso, acima descrito, fica distante e definitivamente perdido. E aí, é possível esbarrar com a consciência de que tudo foi e se foi, porém, está em novo formato, passando novamente rápido no vento que mexe com a saia comprida de tecido rústico ou na réstia que vem do poste próximo e se reflete no olhar aparentemente resoluto da jovem que se pretende insolente como suposta evidência de que é senhora do seu destino, o sujeito na sintaxe da sua vida. Belas intenções. Como é bom ficar perplexo diante delas...! Isso as faz sentirem-se mais confiantes, fortalecidas.

- Carlos Pena, como era mesmo que rolava em meio aquele azul na tarde do Recife de ainda ontem?...

Casa Forte, 14/11/2009
Marcelo Cavalcanti
81-92482399 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com




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