sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PEQUENO NECROLÓGIO SENTIMENTAL
IRMÃ PROFa. MARIA ALICE DE ANDRADE
Conheci na minha tenra infância. Ela chegou no "Grupo Escolar rural Silva Jardim" em 1950. Professora recém-graduada em Linguas Neolatinas (Português e Francês) e em Geografia. Logo se tornou amiga de minha mãe, que era a diretora da citada escola (que recebia o nome "Rural" por causa de uma horta de carater pedagógico).
Foi minha professora do Jardim da Infância até a 4ª Série e foi quem despertou meu apetite pelas humanidades, ou Ciências Sociais. De temperamento afável, era rigorosa na disciplina e gostava de diferenciar seus alunos dos demais pela qualidade do ensino ministrado e pelo trabalho de formação no campo da ética e da civilidade. Uma professora com padrão de excelência, que se dedicava à missão de lecionar com amor apaixonado.
Meu conhecimento e relações com Dona Alice, ou "Alicinha" como nós a chamávamos, ia além da sala de aula. As nossas famílias se tornaram amigas e eram frequentes as visitas. Ela era filha de Sr. José Rosa de Andrade, que era marceneiro e carpinteiro exímio e de D. Alice Maria, uma senhora muito agradável e detalhista, que fazia tricô, croché e bordado de ponto-de-cruz com virtuosa perfeição.
Irmã Maria Alice de Andrade foi filha única e além dos pais, o único parente de quem me lembro era um primo de presença bissexta. Morava em Apipucos, em um sítio no início da Ladeira do, então, Seminário Marista.
Sempre foi católica praticante, que unia o fervor de sua fé ao afeto suave de sua fraternidade. Ostentava sempre um belo crucifixo sobre a blusa e expressava com intensidade seu humanismo cristão no cotidiano de sua prática de magistério.
Era uma senhorita de modos discretos, tímida, que se tornou solteirona e abraçou o celibato como vocação natural. Com a morte de seus pais e a chegada da meia-idade, resolveu se tornar freira (decisão já por muito tempo refletida e preparada). Ingressou no convento das Irmãs da Sagrada Família, com as quais conviveu até a morte a poucos dias, o que me deixou desolado.
As pessoas puras de alma bem que podiam se eternizar. A expressão parece uma frase de efeito, porém, parâmetros são arquétipos morais que se calcificam naqueles que sombreiam e influenciam. Para tanto, a integridade desnuda na própria simplicidade e extraordináriamente robustecida em sua fé e amor ágape, são os elementos constitutivos desta personalidade.
E assim, neste momento, sem política, sem provocações, uso esse espaço para render minhas homenagens a quem muito mais do que me ensinar as primeiras letras ( o que fez, indo à casa de meus avós maternos, quando eu ainda estava limitado pelas sequelas da poliomielite), foi uma referência fundamental no universo de uma criança cercada por um mundo de adultos, já que também sou filho único.
Casa Forte, 11 / 12 / 2009
Marcelo Cavalcanti
81-92482399 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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