quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Porque o populismo sempre quer mais um


- RAZÕES DA SEDE DE HEGEMONIA –


A resposta pode ser simples. Pela ampla fragilidade de sua base política; pela insegurança perante uma possível iminência de fratura em sua base social; pelo interesse em se apossar de modo permanente do aparelho de estado, ou ainda, por ter objetivo político supostamente revolucionário.

Bem, pode-se acrescentar: por todos estes itens juntos.

Pois é. Como aprovar mudanças constitucionais que alteram o cerne da república, a natureza do estado sem uma base social confortável e uma bancada parlamentar muito ampla que supere eventuais escrúpulos?

Não se trata de devaneio paranóico. São inúmeros os exemplos históricos de processos políticos de caráter similar que acabaram em regimes totalitários, ditaduras, etc. Em Roma, Otávio obteve, enquanto cônsul, o mandato de ditador outorgado pelo senado romano. A partir daí, a república tornou-se uma ficção, o mandato (que era limitado a um ano) acabou vitalício e o império durou séculos. Na Venezuela, do histriônico Chavez, um percurso assemelhado foi percorrido, e hoje, as forças da sociedade civil, que se opõem ao governo, que poderíamos classificar de esquerda “teatral” autoritária, passam por muitas dificuldades e sofrem perseguições truculentas.

Assim, começa-se a entender o porquê que motiva governos de viez populista a sempre buscar mais. O poder tem, por sua natureza, a tendência a romper limites. Todavia, se a ambição é limitada a gerir os negócios de estado, esta fome pode ser apascentada razoavelmente nos limites democráticos vigentes. No entanto, a busca por revoluções sociais, de qualquer ordem, pode ser motor para quebra da ordem estabelecida e das chamadas “regras do jogo”. Aí, a democracia é a primeira vítima. E as réplicas aos reclamantes podem ser antevistas com toda carga de cinismo, sofisma e desfaçatez próprios do poder hegemônico, embriagado de si mesmo.

Para quem ainda não percebeu o quanto pode ser capital o respeito às regras e procedimentos para a vigência plena da democracia plural, representativa, que observe com atenção esta afirmação de Norberto Bobbio, lá nos idos de 1976, em um trabalho em que perguntava “Qual Socialismo?”: ...”quem não se deu conta de que por sistema democrático entende-se hoje preliminarmente um conjunto de regras procedimentais, das quais a regra da maioria é a principal mas não a única, não compreendeu nada e continua a não compreender nada a respeito de democracia.”

Casa Forte, 25/11/2010
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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