sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

PEQUENAS PAIXÕES II

As calçadas das circunstâncias

Na vida como no pensamento, o tempo muda e às vezes a chuva sazonal faz crescer um lodo verde escuro que torna as pedras escorregadias. Tudo, ou quase, pode ser o que Wood Allen transformou em um enredo: “Match point”, para qual dos lados a bola, ou a vida vai? Para que rumo seguir nas calçadas, na pracinha singela de São Lourenço, inclinada, simples, sem pretensões, ou, na significante Olímpio Damaso, na Várzea, ou ainda na rua do Hospício, onde quer que se estenda uma faixa de cimento, de pedrinhas.

O pior inverno é aquele que acontece no verão. Peculiaridades do que está a menos de nove graus do equador.

“Match point” é como uma esquina pela qual não esperávamos. Os mestres da “auto-ajuda” veriam nisto um tema farto. Circunscrito às minhas pequenas paixões busco o aconchego dos interiores, dos nichos das igrejas, dos ângulos velados e intimistas.

...”em seguida recuperava a vista, atônito de encontrar em derredor uma obscuridade, suave e repousante para os olhos, mas talvez ainda mais para o espírito, ao qual se apresentava como algo sem causa, incompreensível, algo verdadeiramente obscuro.” (Marcel Proust, em “Combray”, “No Caminho de Swan”, na privilegiada tradução de Mário Quintana).

Proust é mais que uma leitura, é saborear “une pettite passion”. Todavia, a sexta feira flui, inclusive, nas calçadas das circunstâncias.

Mais que isto, os versos de Beto Guedes: ...”Quando eu falava/ Dessas cores mórbidas/ Quando eu falava/ Desses homens sórdidos/ Quando eu falava/ Deste temporal/ Você não escutou...”

Pois é, um delegado de polícia em São Paulo, chamado Damásio Marino, estacionou acintosamente na vaga especial dos deficientes e ao ser reclamado por um cidadão cadeirante, foi truculento, muito ofensivo e culminou perpetrando crime de lesão corporal, fato agravado pela incapacidade de defesa física por parte da vítima. E tem mais, a vítima, ao dirigir-se a uma delegacia de polícia para fazer a queixa, não foi citado o nome do indigitado delegado no boletim de ocorrência, além de outras omissões viciosas, no intuito evidente de dificultar o inquérito pertinente. Tais policiais são cúmplices passivos do crime e cometeram mais um crime ao obstruírem a ação investigativa da polícia e a própria justiça com a lavratura de um boletim defeituoso. Em casos como este, somente a ação direta do Governo de São Paulo para sanar os efeitos da cumplicidade corporativa e promover os meios para uma punição exemplar, que vá além da repressão específica do delegado criminoso e covarde.

Mais ainda, que desencoraje a ação deletéria por parte dos demais, contribuindo assim para o fortalecimento do respeito à lei.

“Esses homens sórdidos” merecem todos os rigores punitivos de que o estado dispõe nos domínios legais.


Casa Forte, 21/01/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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