quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

PEQUENAS PAIXÕES

São como arranjos florais sobre uma mesa no canto da sala


Mme. Verdurin gostava tanto de Wagner, seja nas “Walquírias”, seja no prelúdio de “Tristão”, que proibia que seu protegido as tocasse, por temor de suas enxaquecas. Coisas de Mme. Verdurin, conforme narra Proust em “Um Amor de Swan”, numa bela tradução de Mário Quintana.


Aqueles que lêem este blog com freqüência, provavelmente já perceberam que uma de minhas pequenas paixões é o gosto pelos arranjos de flores ou frutos, ou ainda dos dois em vasos e cestos para o regalo dos sentidos. E mais completo será o conjunto se acompanhar cálice e garrafa, insinuando o flavor do vinho, do licor, do conhaque, etc.

Esta reflexão corre o risco de se tornar uma digressão hedonista, mas, não é esta a minha intenção. Apenas, passeio com o pensamento pelas calçadas das circunstâncias.

Bertrand Russell afirmava que os filósofos árabes medievais eram enciclopedistas e “olhados com desconfiança pela populaça, que era fanática e beata”. (palavras de Russell). De fato, os califados dos tempos dos omíadas tinham outra visão do islã. Um dia, que assim seja, os filhos de Ismael armarão suas tendas em frente às dos israelenses. É triste ver o que o fanatismo fundamentalista, que foi fomentado pela incompetência míope do colonialismo inglês, faça tantos estragos na trajetória de uma cultura que foi florescente e ainda hoje é promissora. Mesmo os iranianos, que adotam leis indigestas para nós ocidentais, são muito mais reféns que mentores de uma teocracia radical e sectária. Mas, a História não se faz apenas com décadas, porém, mais sólida e profundamente com séculos, milênios.

Nomes como Omar Khayan, Avicena, Kindi, Averroés, Muhamad ibn Musa al-Khwarazmi e outros merecem o respeito histórico e ao fazê-lo, estimula-se o ânimo em contrário às veredas execráveis de talibãs, AL-kaeda, hesbolah, que a rigor causam desconforto e vexame à grande comunidade dos seguidores do Corão, que tem uma tradição de tolerância e de fraternidade.

Pequenas paixões são como risadas no salão. Causam rubores e escoam lépidas.

Reprovaram a indicação do filme que conta a história da vida do ex-presidente. É triste não ver o Brasil entre os títulos indicados, mas, observando atentamente, o tal “Lula, filho do Brasil” (uma metáfora infeliz para o filho de D. Lindu, que é a verdadeira heroína) é uma tentativa frustrada de fazer propaganda piegas da trajetória de dificuldades e percalços da infância e juventude de uma criança imigrante, que se torna líder sindical, chefe de partido ( e aí, o filme não conta mais), chegando a ser presidente da república por oito anos. A película foi um fracasso de bilheteria e de crítica. A classe média é o grande consumidor de cinema e os fatos são de uma clareza cristalina. Os grandes campeões de público de 2010 foram “Nosso Lar”, “Chico Xavier” e o campeoníssimo “Tropa de Elite 2”.

Prefiro me abster de avaliar a pretensa qualidade da produção. Todavia, nem os apregoados 83% foram suficientes para encher os cinemas e tampouco, o júri da academia de Hollywood se mostrou comovido e sensibilizado com os gestos de teatro mambembe (que me perdoem os que fazem mambembe) e os brados roucos, perdigotos ao ar, escorrendo na barba hisurta, que buscaram comover as platéias.

E já pensou, se, se, o filme tivesse sido indicado a alguma modalidade do “Oscar”?... Aquele senhor, que é apaixonado por holofotes, iria certamente querer desfilar no tapete vermelho da grande festa de Los Angeles e dizer, de olhar injetado, aos repórteres, “nunca antes nesse país”... – Risadas no salão.

Casa Forte, 20/01/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com















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