quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

EGITO III



MOHAMED BARADEI, A DEMOCRACIA POSSÍVEL, OU A AMEAÇA TEOCRÁTICA FUNDAMENTALISTA


O governo Mubarak foi ferido de morte e sangra perante esta insurreição de jovens citadinos. Seu equilíbrio político foi definitivamente desestabilizado. A contradição é de demonstração simples: 65% da população do país tem idade menor que o tempo de poder do Sr. Mubarak, que segue o modelo nasserista ultrapassado, ou seja, partido único ( os outros apenas fazem jogo de cena), uma ideologia pan-árabe, discurso socializante (já abandonado) e autoritarismo militarizado. O chefe de governo atual já foi comandante da força aérea (aquela que Israel defenestrou todos os aviões no solo em 1967), embora, o fundador do regime, que começou em 1953, com a derrubada do rei Faruk I, fosse o carteiro nacionalista Gamal Abel Nasser, que se tornou um dos líderes do movimento “dos não alinhados” (uma ficção política que se pretendia a parte da “Guerra Fria”).

Assim, nesta estiagem de líderes oposicionistas, o Sr. Baradei começa a se firmar como galvanizador de uma parte substancial da oposição insurreta cada vez mais autoconfiante. Esta é a luz no túnel. Uma luz que ilumina na medida em que o levante se fortalece e se desembaraça de ameaças teocráticas. A personalidade deste, que é “Prêmio Nobel da Paz”, pode vir a ser a “carta de fiança” para uma transição democrática. Contudo, o nome de um ex-Ministro de Relações Exteriores tende a se mostrar viável como líder de transição pela habilidade e reconhecimento pelas partes conflagradas.

O Egito não tem nenhuma tradição democrática, apesar de ser um dos países mais ocidentalizados do mundo árabe, porém, nunca é tarde para começar. Aliás, há muito que se entender deste país que, etnicamente, não tem um só egípcio, que é um povo extinto. Todavia, historicamente, o Egito moderno e contemporâneo, tem muitas influências da cultura ocidental.

Agora, a Europa, os Estados Unidos, o Ocidente, de um modo geral, precisam estar atentos e sensíveis aos fatos para não darem tiros no próprio pé. Além da situação geográfica delicadamente preciosa, há o Canal de Suez, o oleoduto que vai de Alexandria até o Mar Vermelho, o controle do Baixo Nilo e sua foz, a fronteira com Israel, etc, etc.

- Presidente Barack Obama, Secretária Hillary Clinton: juízo. “Não joguem a criança junto com a água do banho”. Os egípcios, a humanidade, os homens de boa vontade vão agradecer.


Casa Forte, 03/02/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com


Post Scriptum: Mesmo mortalmente ferido, o regime atual ainda pode ter alguma sobrevida, mesmo sem Mubarak. Não se deve esquecer que o poder tem a vantagem da posse do aparelho de estado. No caso, a força militar é um instrumento valiosíssimo mesmo com a convivência pacífica militares – manifestantes, e nunca se deve olvidar: à sombra dos quartéis não vicejam flores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário