sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

OS DROMEDÁRIOS DA LIBERDADE


Para dar um clima ameno ao comentário inicial, poder-se-á dizer que é preocupante a possibilidade de cancelamento do “GP do Bahrein”, agora em março, por conta da instabilidade política do país. A monarquia do reino tem viez absolutista e conduz um governo literalmente familiar, que tem o apoio de uma minoria sunita, que é 30% da população. Agora, os outros 70% xiitas querem a parte que acham que lhes cabe. Misturam esta insatisfação com bandeiras de direitos civis e livre acesso à modernidade. Aí está o combustível do novo incêndio na borda da península saudita, em um arquipélago de trinta e cinco ilhas que é a sede da quinta frota norte-americana. Simples, volátil, imprevisível.

Em um segundo cenário, após quarenta e dois anos no poder, o coronel Moamar Kadafi enfrenta, com a truculência de sempre, as manifestações em Trípoli e outras cidades. O ex-inimigo público do Ocidente dos anos setenta e oitenta, agora se mostra discreto e sabe que tem poucas saídas políticas na crise. Do exíguo arsenal de medias que lhe resta, a força, a repressão violenta, o terror do poder totalitário é o feixe de ações que esta em sua mão. Como é fácil perceber, isto pode ser (e provavelmente será) a pá que alarga a sua cova, porém, o coronel, chefe do estado líbio desde 1969, não foi treinado para as habilidades da negociação política em bases minimamente fraternais. O regime líbio vive circunstâncias de declínio e grande frustração e isto é gasolina de alta octanagem na fogueira de uma rebelião civil.

Para culminar, próximo ao Golfo de Adem, junto ao sul do Mar Vermelho, dois navios de guerra iranianos aguardam autorização para seguirem fumo ao Canal de Suez e (supostamente) se juntarem à frota síria no Mediterrâneo, próximo ao litoral palestino-israelense, para alegadas manobras militares. É provocação barata, mas, faz, oportunamente, o papel de distrair as atenções das manifestações de insurgência com aceno para um problema exterior, ainda que artificialmente fabricado.

Os ventos sopram colunas de areia, movendo dunas que chegam a sombrear o sol. Os dromedários erguem suas cabeças e berram.

Casa forte, 18/02/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com


Post Scriptum: Ainda sobre o Bahrein, que os iranianos consideram uma província persa: No início das manifestações populares em Al Manamah, o governo depositou a quantia de 2.700 dólares na conta bancária de cada bahrenita (algo em torno de 4.482 reais – ou aproximadamente 4 anos de bolsa-família “per capita”). Não surtiu efeito substancial porque os bahrenitas não têm fome de pão. O país é rico. Tem um PIB de 27,1 bilhões de dólares para uma população de 800 mil habitantes, ocupa a trigésima nona posição no ranking do IDH e 88% da população é alfabetizada; níveis extraordinários para a região. Eles têm fome de justiça. Querem ser mais que súditos. Querem ser cidadãos, como costuma ser nos países ricos do Ocidente. Mais uma vez, o “google”, o “facebook”, o “orkut”, o “twitter” como vanguarda na difusão dos nossos conceitos e gostos, do nosso “way of life” que eles todos estão sedentos de gozar. – Go ahead guys!...

Um comentário:

  1. no dia em que as pessoas se calarem diante da opressão, saberemos que a humanidade está prestes a acabar

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