quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A PAIXÃO PELA VIDA E A INDOLÊNCIA DE TANATOS

Bernardo Bertolucci, no seu magistral “The sheltering sky”, que entre nós recebeu o título de “O Céu que nos Protege”, relata o drama patológico (?) do ócio que nada cria e apenas consome as ansiedades e desejos, abdicando do gosto pela vida na sua essência tonificante, que nos empurra adiante.

A soberania de Tanatos é uma servidão infame. Os despropósitos da renúncia ao amor, à ágape cobram um tributo pesadíssimo. Assim, se o Céu ainda nos protege é pela conta de uma Graça infinda, porém, se a vida apresenta sempre uma fatura, a morte arranca tudo e principalmente a esperança.

A humanidade tem em sua trajetória a luta constante contra a morte pela superação passo a passo de sua inevitabilidade. Quando começamos a polir as pontas das flechas, assim como, fazer facas mais duráveis, conservar o fogo, fazer acontecer pelo calor da ação mecânica, transformar uma erbácea de grãos rústicos em um trigo com produtividade e que tal, o milho, aquela espiga de sementes banguelas, retorcida, que se torna a maravilha que alimenta tantos milhões. Pois é, como a “Emília” de Monteiro Lobato, está na nossa via histórica a vocação inescapável pela “reforma da natureza”. Claro, isto não tem muito a ver com o melodrama hipócrita e superficial de alguns segmentos, ditos, ambientalistas. Estes vivem Tanatos às avessas e buscam a imolação da civilização como sacrifício pelo resgate (suposto resgate) do planeta.

O que deve vir a ser é a paixão vital. Essa que nos faz produzir proteínas completas para a alimentação saudável de bilhões.

Deste modo, assistir o debate com a Profa. Dra. Geneticista Lígia da Veiga Pereira é gratificante. Colocar-se à frente na fronteira das possibilidades do conhecimento e da sobrevida humana, mostra-se um ato de paixão, que, no caso da Dra. Ligia da Veiga, inclui o amor por seu país e acrescenta a escolha do Brasil como seu “campus” de pesquisa. E aí, mesmo sabendo dos obstáculos, da política discricionária dos governos míopes, que preferem jogar para as platéias sedentas de redenção pelo consumo, e, mesmo consciente, como a própria comentou, que a coisa pública no Brasil funciona quando interessa ao poder vigente. E fica a pergunta, o que interessa e preocupa o poder em exercício? O que faz com que um pesquisador acadêmico, a serviço do próprio estado, tenha que amargar a lentidão burocrática na importação de reagentes para a pesquisa no Brasil, pagando impostos como se estivesse importando uma boneca “Barbie”?

É esta recusa a se dobrar perante Tanatos que melhor constrói o amor estremo pelo que se define: humanos sob o céu que nos protege.

Casa Forte, 16/02/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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