terça-feira, 1 de março de 2011

OS DROMEDÁRIOS DA LIBERDADE II



Como toda primavera dá lugar ao verão, a tempestade de areia que move dunas, curva palmeiras, assoreia vales e soterra múmias, completa seu ciclo, passará. Todavia, se sua fúria expuser esqueletos como o de Kadafi, já terá valido a pena.


Na verdade, o ditador ridículo está apenas protelando a sua queda, talvez, por horas. A Líbia que ressurgirá, será um país fraturado, com suas misérias expostas. A costura de uma nova unidade nacional será difícil e de traçado tortuoso.


Depois das festas de vitória, do sepultamento dos mortos, que são alguns milhares na Líbia, virão novos desafios. E então, até onde irão estes dromedários?


O Norte da África, provavelmente, emergirá melhor desta tempestade. Resta às chamadas potências exteriores, a sensatez de lidar com sabedoria com as novas forças políticas que afluirão.


Mas, ainda há Sanaa, Teerã, estas cidades que escrevemos com vogais dobradas (por artes da transliteração)e servem de sede para governos totalitários. Regimes que sempre tripudiaram no desejo irreprimível do humano de buscar liberdade e soberania. Desde que superou o estágio das hordas e percebeu, de modo consciente, que o domínio da comida e do abrigo significava o domínio da vida, que a compulsão por ser livre incorporou-se ao “instinto social” do homem.


Portanto, Teerã, Sanaa que se cuidem. O mundo islâmico, historicamente, tem muitas reviravoltas violentas. No entanto, é notável a mobilização popular e da classe média urbana dos países conturbados.


Liquidado o regime de Kadafi & Filhos, a bola da vez, possivelmente, será o Yemem. Um país atrasado, com um governo fraco de pouca capacidade de exercício real do poder sobre a totalidade do território yemenita, onde existem células ativas da “al kaeda”, que recruta facilmente adeptos no meio de uma sociedade carente (a mais pobre do mundo árabe) e economicamente muito ineficiente.


Porque a “al kaeda” não hegemoniza as revoltas populares? – A “al kaeda” é uma organização de adeptos iniciados, de caráter paramilitar, conspirativo, com viez terrorista. Seus propósitos não fascinam uma juventude que quer liberdade, oportunidades, integração ao universo de consumo ocidental. Terror, vida ascética, militância radical, auto-sacrifício, “guerras santas” não combinam com os anseios das populações emergentes que querem se livrar, exatamente, da opressão de regimes anacrônicos. Não faria sentido algum trocar pelo pior. Organizações do tipo “al kaeda” e assemelhadas medram em populações carentes com poucos horizontes e que são pouco integradas à modernidade. Jovens universitários com presença ativa em redes sociais e cheios de sonhos não gostam mesmo de se verem aprisionados em um grupo radical, iniciático, mal visto, violento e com pretensões delirantes. A “al kaeda” não foi criada para liderar massas, porém, para aterrorizar países e chatagea-los. E isto não apaixona gente cheia de esperança no mundo real.

Bem, com um pouco de sorte, veremos em breve, também, o fragor crescente de insurgentes nas praças e avenidas de Teerã.


Em tempo: O recém findo “governo Lula” vendeu ou agenciou a venda de veículos blindados, com tecnologia sofisticada para suposto combate a “distúrbios de rua” à ditadura de Kadafi &Filhos. Alguns foram super equipados para serem unidades de comando. Aí está exposto o comportamento aético do “governo da companheirada”. Quando foi denunciada a vergonha de se ver o Presidente do Brasil abraçado com ditadores (até com passado de financiador de terrorismo) e caudilhos, a resposta pálida foi de que tudo seria em nome de um tal pragmatismo. Agora, os jovens de Trípoli sentem na carne os efeitos do cinismo, dito, pragmático do poder petista.


Casa Forte, 01/03/2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

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