quinta-feira, 21 de julho de 2011

EMERGENTES PODEM DEFINIR FUTURO DO PAÍS
(A nova classe média e um projeto político nacional)

Eles começaram a existir desde o “plano real”. O câmbio facilitado que levou o dólar até o patamar de(R$0.88) oitenta e oito centavos, derrubou preços, facilitou importações e aqueceu o comércio. Todavia, as sucessivas crises internacionais não davam espaço para a afirmação de uma nova política econômica que alavancasse o crescimento do PIB com percentuais mais expressivos.

A saída pela política de transferência de renda e consequente fortalecimento do mercado interno teve êxito inicial. Com a crise de 2008, aprofundou-se essa busca da afluência pelo incentivo à demanda do mesmo mercado interno, com a facilitação do consumo pelo escancaramento do crédito, pela via dos juros baixos, renúncia fiscal e mesmo pela ampliação do acesso a compra de imóveis residenciais.

Os resultados logo se tornaram visíveis. Surgiu uma nova classe emergente, que consome como nunca e que jamais atingiu percentuais tão absolutos. Eles são mais da metade da população do país e tendem ao crescimento.

Agora, estas dezenas de milhões de cidadãos, uma vez colocados em um novo patamar sócio econômico, têm novas aspirações, que vão além da demanda reprimida. Buscam qualidade nos serviços e mercadorias que consomem. O país não estava preparado para esta explosão, mas, convive e tenta administrar do jeito que o improviso consegue.

Todavia, a contenção de um consequente fluxo inflacionário ao preço de malabarismos do Banco Central, com ascensão dos juros pelo COPOM, etc., vem criando uma tensão que rebate na ansiedade da nova classe média.

A advertência é: sem consumo não há sorriso. Sem a continuidade da inclusão de novos contingentes ao contexto socioeconômico da fartura e da esperança não há futuro politicamente sustentável.

Mas, nem tudo é cinzento. A saída pela ampliação de políticas públicas que atendam as demanda de consumo de serviços, garantia de qualidade de produtos, aperfeiçoamento de direitos civis é sábia, porém, nem sempre é de fácil execução. Interesses conflitam. No entanto, a composição de programas alternativos que apontem estas necessidades à população serão realmente simpáticos e atrativos.

A bolha está a cada dia mais perto do seu limite. Não se pode crescer indefinadamente a taxas robustas exportando “comodities” e assistindo passivamente o desmonte do parque industrial. A economia heterodoxa desenvolvimentista pode ser viável, contudo, com a crise de insolvência de países e bancos europeus, as medidas de arrocho dos gastos públicos dos americanos, os problemas pós Fukushima do Japão e a acentuada queda de ritmo de crescimento chinês, não há como escapar a médio prazo a uma reeducação de teor monetarista da economia nacional.

Tudo isto pode ser mais grave se for observado que o sucesso do governo está atado às políticas de transferência de renda, facilitação de crédito, obras em grande volume e aceleradas, incentivo ao aumento de produção de “comodities”. Em suma, o êxito social do governo está ligado à gastança. Como compatibilizar este binômio: gastança versus reeducação econômica?

A resposta é até certo ponto simples. Com um projeto político diferenciado, que rompa com os parâmetros e compromissos defasados. Quem pode fazer isso? Quem tiver coragem, força, autonomia independência e ousadia. O governo pode capitanear tal política? Pode, mas, teria que romper com compromissos e práticas às quais está cingido. A oposição pode? Pode, mas, terá que mostrar muita seriedade, confiabilidade, ser incisiva, independente e não cair na tentação do construtivismo político. Terá que ter a altivez de olhar para a nação e dizer com honestidade que o país precisa de mudança e que está firmemente disposta a realiza-las.

Como foi afirmado no início, os emergentes podem definir o futuro. Quem souber se colocar melhor do lado deles leva nítida vantagem.

Casa Forte, 22 de julho de 2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com



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