quarta-feira, 13 de julho de 2011

MAIS UM “REMAKE” VISITA JANETE CLAIR
Barry White embala a festa na volta do “ASTRO

A Globo mais uma vez mostra seu padrão de excelência e exibe um roteiro muito bem readaptado, apesar dos “clichês”, como a cena de “Marcio Hayala” desnudo, quero dizer, São Francisco de Assis jovem explicitamente revisitado. Ou ainda, a tomada circense de “Herculano Quintanilha” na casa de espetáculos da Lapa.

É preciso entender a cabeça de Janete Clair, uma mulher culta, que sabia fazer folhetins magistrais para a mídia eletrônica, casada com Dias Gomes, um dramaturgo genial e também escritor de novelas dos melhores.

Entendendo o ideário de esquerda contestatária dos anos 70 de Janete é possível começar a perceber o que compõe esse mix de realismo mágico que transpõe a Macondo mítica de Garcia Marquez para a linguagem alegórica da dupla “Fergusus/Herculano”. Quem não leu “Cem Anos de Solidão”, que virou “best” na época, não imagina as similitudes. Mais ainda, as acrobacias metafóricas que o discurso simples de telenovela tinha que executar para passar uma visão “a gauche” em tempos de ditadura, censura, mito “yuppie”, Donna Summer cantando “I feel love”... e fords galaxie, Mavericks roncando na saída das discotecas, que eram templos do desvario dentro do sistema.

Compreendendo o corte, o modelo comportamental das personagens esculpidas pela grande senhora da teledramaturgia nacional, observa-se a ausência de preocupações com ilações entre o histórico emocional de fundo e os caracteres da personalidade. Os nós e fluxos do inconsciente não são anotados como raízes das paixões, das fissuras psíquicas. Poderíamos sublinhar “Salomão Hayala” como um exemplo de hipertrofia “do nome do pai”, mas, parafraseando versos do recifense Reginaldo Rossi, a teoria já existia, mas, nem se falava. Naquela época, não seria bem visto tal enfoque. Os modelos sociais eram responsabilizados pelas atitudes individuais, pelas obsessões e até mesmo pelas perversões. Para uma esquerda culturalmente dominante, a sociedade burguesa é que era psicótica e ansiava pela revolução como uma grávida em dores de parto para dar a luz.

Bem, resta acompanhar a direção de Mauro Mendonça Filho, o show de maestria da dupla Daniel Filho e Regina Duarte, a sensualidade velada e transbordante de Guilhermina Guinle e aí, é possível até esquecer que a história começou lá trás e então, os acordes de “Love theme” de Barry White nos sacodem dizendo que é um “remake” ou, talvez, um “revival”...

Hoje, como ontem, surgirá a pergunta: quem matou “Salomão Hayala”? E eu, que sou de virgem, mas, não tenho ametista, embora goste de amarelo?... “Bijuterias” de João Bosco cravou no osso da memória de quem viveu 1977 no Brasil e quem sabe, suspirou entre ânsia e alívio como Drumond que confessou ao final: “ainda bem que ‘O Astro’ acabou”...

Casa Forte, 14 de julho de 2011

Marcelo Cavalcanti

(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

“Post Scriptum”: É preciso ser atrevido não apenas pra falar de política, porém, e muito mais, para visitar e reler o que fomos enquanto sociedade, enquanto cultura, sem ser sisudo, sem o ranço conspícuo das patrulhas ideológicas, mas, com a leveza dos cabelos suavemente emoldurantes do rosto de “Amanda” nas cenas cheias de brilho, que iluminam este folhetim clássico da tv brasileira.

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