segunda-feira, 11 de julho de 2011

FUNDAMENTALISMOS, ONTEM E HOJE,

Berço de práticas discricionárias agressivas
(Edição corrigida)

Pois é, os fundamentalismos não são patrimônio exclusivo de seitas, religiões, mas, até de doutrinas políticas dogmáticas e podem gerar práticas com efeitos nefastos para as nações e povos que sofrem com tais exercícios de justificação de poder e de políticas retrógradas.

Em passado recente, tivemos o exemplo da Albânia cujo governo se auto investia de pureza ideológica e chegou ao cúmulo de praticar uma xenofobia tão radical que forçava a separação e anulava casamentos entre albaneses e estrangeiros. Também, podemos citar a ditadura sanguinária do “Kmer Vermelho” no Cambodja, liderada pelo tresloucado Pol Pot, que buscava um suposto caminho de reeducação revolucionária internando no campo, para trabalho semiescravo, vastos contingentes da população urbana do país.

Em outra época, uma oura ditadura, a de Cromwell na Inglaterra, era sustentada com o apoio de puritanos neoprotestantes. A restauração trouxe de volta a hegemonia compartilhada da Igreja Anglicana e da minoria católica com evidentes costumes mais liberais, aliados a um rei (Carlos II, casado com uma princesa portuguesa, Catarina de Bragança) de formação na corte francesa, igualmente liberalizante, com hábitos cosmopolitas para seu tempo. Apenas para esclarecer, a minoria católica era maioria na Escócia, que abominava o domínio militar do usurpador Oliver Cromwell.

Estamos acostumados a associar fundamentalismo a seitas islâmicas, porém, a exacerbação de purismos doutrinários ocorre em qualquer vertente de pensamento religioso, filosófico ou ideológico. Em geral, são manipulados para posições políticas e sociais muito reacionárias, conservadoras, eivadas de preconceitos assim justificados e erigidos ao patamar de guias da ética e da moral. Daí, surgem as atitudes públicas de exclusão, discriminação e mesmo de demonização.

Vejamos mais um exemplo. Antes da independência norte americana, na segunda metade do século XVIII, os ingleses desterravam os grupos fundamentalistas para a América. A consequência foi uma série de conflitos sangrentos entre grupos religiosos que são pouco lembrados pela História Oficial Americana. As regiões onde houve supremacia de segmentos liberais mais rapidamente se industrializaram e se modernizaram.

Hoje, o fundamentalismo xiita iraniano é o exemplo mais acabado de uma prática conservadora e autocrática que mistura e confunde o estado com a religião em uma construção teocrática que oprime as mulheres e as apedreja, persegue os bahai (uma seita dissidente), mutila condenados e executa cidadãos discordantes por “crime de opinião”. No entanto, as sementes fundamentalistas germinam e medram em qualquer terreno fértil de dogmatismos conservadores, onde permeiam as idéias obscurantistas, a negação do conhecimento científico, a rejeição do progresso social, econômico e tecnológico. É sempre assim. O movimento de reação aos avanços sociais e desenvolvimento cultural se agarra a “princípios”, “valores”, “fundamentos” para explicar, seduzir e impor a ação agressiva de vetar e barrar a realização humanista de inclusão e isonomia universal dos cidadãos.

Casa Forte, 11 de julho de 2011

Marcelo Cavalcanti

(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com

Post Scriptum: Os fundamentalismos não se tornam ferramentas de mobilizações reacionárias porque são expressões de ideários anacrônicos, mas, porque precisam da âncora de doutrinas sacralizadas pelo deslocamento histórico e envolvidas por uma aura de suposta pureza original para dar sustentação ao movimento de retrogradar a sociedade e manter um estado de “consciência” social alienado dacrítica, da razão, do questionamento por estar entronizado pelo pelo hipotético absoluto, ou seja, o “fundamento”.

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