segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

SOCIEDADE AFLUENTE II

- “A linha branca” da popularidade e a indulgência da opinião pública –


A redução do IPI em ¾ (20 ao 05%) sobre a chamada “linha branca” em simultaneidade com o recebimento do 13º salário e o estímulo consumista extraordinário do tempo natalino tem gerado uma grande euforia. Pouco mais de 60% da população são empurrados para o ícone maior da pós modernidade: o consumo.

Assim, diante da queda do sétimo ministro da república, o sexto, por acusações pesadas de corrupção, esta gente dá de ombros. O que importa é a geladeira nova, o “freezer”, o microondas e a máquina de lavar de última geração, o fogão automático e inteligente, o condicionador de ar de linhas horizontais, etc. O que importa é a economia aquecida, bombando (como se diz na linguagem das ruas); segmentos da indústria em regime de produção total, muitas expectativas e autoconfiança. Portanto, quem se interessa se o (enfim) ex-ministro Lupi era cinicamente trapalhão no uso de frases histriônicas, ou, se o (já quase esquecido) ex-ministro Silva, do PCdoB, dos Esportes se achava indestrutível e se demitiu por uma carta pífia.

Entrevistados pela revista “Época” (nº 707) desta semana, os cientistas políticos Bruce Bueno Mesquita e Alastir Smith, da Universidade de Nova York e autores do livro “The dictator’s handbook”, declararam: primeiro, que “todo autocrata sempre precisa deixar claro que seus aliados podem ser facilmente substituídos para ter o controle da situação em suas mãos”; segundo, específico, “A presidente do Brasil, Dilma Rousseff tem de responder a um grupo enorme de pessoas – isso se ela quiser ser reeleita”.

Bem, os fatos correspondem de forma clara. Sete ministros já foram substituídos e um oitavo, Mário Negromonte, está com os dias contados. A presidente prossegue impassível com todas as vassouradas que o governo teve que dar para manter a imagem e alguma aparência de integridade de sua gestão. Por outro lado, incentivos e renúncias fiscais, além de outras medidas de aquecimento de consumo e alargamento de programas sociais, atende aquilo que Bruce Bueno de Mesquita sugere: ...”responder a um grupo enorme de pessoas”... E deste modo, a afluência socioeconômica do Brasil, por enquanto, fica garantida. Porém, na História, a sucessão dos fatos não é tão simples. A fórmula do agrado não é tudo e o “panis et circensis” pós moderno, emblematicamente, representado pela corrida eufórica à “linha branca”, tem limites facilmente alcançáveis. A popularidade fundada em ocorrências sazonais é frívola e não raro leviana.

Pão e circo é um binômio que funciona, mas, eventuais frustrações fermentam decepções e reações imprevisíveis.

Casa Forte, 05 de dezembro de 2011-12-05 Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com
www.politicamenteatrevido.blogspot.com


Post Scriptum: Pela ordem provável dos escândalos, algo faz supor que o próximo ministério a ser a “bola da vez”, pela tradicional e promiscua intimidade com ongs e ocips, é o da Reforma Agrária. A diferença é que ali está incrustado o braço quase armado, violento de “uma certa” esquerda que é o MST, que tem líderes e dirigentes presos e processados por crimes diversos; que está em decadência, porém, ainda preserva uma capacidade mínima de mobilização. Seria de um imenso ridículo ver bandeiras de reforma agrária desfilando em defesa de peculato e crimes mais “cabeludos”. Como já foi comentado aqui, para alguns segmentos, ditos , revolucionários, corrupção pela esquerda é apenas expropriação do estado burguês. Todavia, a economia continuará afluente à moda sabe-se lá de que...

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