quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SOCIEDADE AFLUENTE À MODA BRASILEIRA


Foi comentado há alguns dias os possíveis “porquês” do baixo nível de mobilização dos nossos concidadãos, aqui, neste blog, a propósito de convocações virtuais para a passeata contra a corrupção. Sempre vale o esforço, o voluntariado, mas, realidades e seus correspondentes modelos não se copiam.

A “primavera árabe”, o “ocuppy” americano (e agora, também, inglês) as megapasseatas de Atenas são fenômenos carimbados pela conjuntura dos respectivos países. Por paradoxal que possa parecer, as poucas centenas de pessoas reunidas no Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte ressoam o menor interesse sim, porém, sobretudo, a insipiência da mobilização. A convocação virtual é um blefe. Serve como apelo poético para moldurar o quadro jovial das manifestações, todavia, meios são apenas ferramentas (não devemos esquecer) nas mãos de seus operadores.

Assim, quando uma pesquisa publicada no diário de Pernambuco, de domingo último, afirma que os 53,9% da “classe C” querem mais acesso ao consumo, enquanto que, os 7,6% da “classe B” querem a distinção de seus padrões de vida e de consumo, há um sinal relevante. Juntas, as duas “classes” falam de abastança como preocupação socioeconômica. Querem se afirmar pelos signos da abundância e suas marcas.

Fazendo uma comparação canhestra, é algo semelhante à construção de “styling” americano dos anos cinqüenta e sessenta, que exibia um excesso como demonstração de riqueza e poder. Vivemos em uma época em que são erigidos novos valores e parâmetros culturais a partir de ideários e buscas pós modernas. E aí, a própria cidadania passa por uma agenda de reivindicatória aparentemente fugaz. A exibição de um “tablet” a bordo de um carro coreano com design italiano é uma imagem emblemática. Também, se exibir no “facebook” e “twitter” é um gesto social que é teatralizado num apelo de aprovação virtual (é claro...!).

O fato é que, juntas, as faixas A, B e C somam 64,7%, ou seja: 124,87 de 193 milhões de brasileiros. Isto, por si só, leva a uma revolução de costumes impulsionada por uma inclusão econômica que arromba, literalmente, portas sociais. Há dez anos, este percentual era de 47,1% e já era impactante como ressonância do plano real. O tempo vai pajeando a montagem e sedimentação de novos hábitos e, principalmente, valores. Tudo isto, dentro de um quadro de pós modernidade, de afluência, que num momento de crise no primeiro mundo, é como o excesso americano dos anos cinqüenta.

No entanto, esta afluência e suas idiossincrasias de moda, vivências e conflitos têm marcas da pluralidade cordial brasileira. As esquerdas mais biliosas, certamente, ficam frustradas pela ausência de um acirramento de choques entre classes. Tudo vai se diluindo e se amalgamando, tendendo a se deslocar para os “templos” e “capelas” da gastança. O aumento do poder de compra, em dez anos, foi de 90,8%. Por falar em templos, até a “teologia da prosperidade” sofreu com o movimento ascendente do país. Algumas vertentes religiosas, que se apóiam na carência e anseio de inclusão socioeconômica, estão em baixa e se inclinam à falência. Também, cresce o índice de escolaridade (ainda que insipiente e de má qualidade) e se diversificam as vias de introdução no mercado de trabalho.

A economia informal continua aquecida, mas, as bandeiras do MST rareiam e desbotam. O tênis de marca pode ser uma falsificação paraguaia, o perfil no “facebook” é quase um “fake”, porém, o imaginário destes brasileiros está com a auto-estima social elevada.

Casa Forte, 01 de dezembro de 2011
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 - cavalcantimarcelo1948@hotmail.com
www.politicamenteatrevido.blogspot.com
Um blog pela liberdade e pela democracia, comentando gênio indulgente de um país (mais ou menos) afluente.

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