O CERCO AO PT PELO “PT”
- Edição comentada -
Em breve poderemos assistir, talvez, pela primeira vez, no Recife, uma operação de cerco e aniquilamento de uma parte de um partido (atualmente, o mais poderoso do país) por outra. O “PT” palaciano, eventualmente, poderá crucificar o PT de raiz no Recife. Desalojar um prefeito de sua precedência como candidato à reeleição é algo ousadíssimo e quase inusitado na capital. Todavia, existe um risco real de ocorrência deste fato.
Na História do Partido dos Trabalhadores, isto não é inédito. O processo de expulsão dos trotquistas em meados da década de noventa, quando era necessário abrir espaço para a hegemonia da corrente “campo majoritário” capitaneada por José Dirceu, foi um episódio de reelevo. O grupo defenestrado construiu seu próprio partido que nunca decolou, que é o PSTU. Depois, em pleno primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio, a então senadora Heloisa Helena teve à sua frente um dedo em riste apontando a porta da saída e também, após uma tentativa de disputa presidencial em 2006, declinou e hoje mal se sustenta a sigla fundada para dar abrigo aos descontentes.
No Recife, em pleno abril de ano eleitoral, assistimos a uma operação política que pratica manobras de um contorcionismo próprio de um serpentário e ameaça jogar pela janela e expor a espiação pública, um prefeito eleito pelo próprio partido, que nem foi condenado (ainda) por corrupção ou algo de gravidade equivalente. Apenas, foi um gestor medíocre (e quantos não foram?). Trata-se, no entanto, de limpar o terreno para os novos projetos políticos das lideranças em ascensão, que, até ontem, eram suas aliadas. O apoio do deputado e ex-prefeito João Paulo ao candidato palaciano é incongruente, porém, é real e pesa na batalha.
Daqui a trinta e um dias. ou menos, teremos o resultado desta réfrega fraticida. O que sobrar do embate, em parte, poderá ter que se abrigar em outras paragens partidárias para sobreviver politicamente. De resto, os eventuais derrotados poderão, com certeza, atribuir a desdita às manobras urdidas pelo “velho de São Bernardo”, que está obstinado a abrir caminho para seu protegido, o pífio pré-candidato e ex-ministro Haddad.
Por enquanto, resta assistir para que lado sopra o vento e como balança a copa das árvores...
Post Scriptum: O vento balança a galharia, ainda farta, das árvores e o que se vê é a queda de folhas outonais. O ex-prefeito, ex-operário e atual deputado João Paulo, provou na entrevista ao Diário de Pernambuco, que cai na tentação de fazer política com o fígado. Guardar ressentimentos, em política, é pecado capital. O ex-prefeito deu provas de ser um pecador assumido. Mesmo assim, eu vi o vento de abril soprando forte na manhã da Praça do Entroncamento neste fim de semana. não tenho simpatia política alguma com a administração do atual prefeito, mas, é, sem dúvida, constrangedor ver o prefeito de sua cidade sofrer a tentativa de defenestração tão solerte de que vem sendo vítima. Não que isso seja algo totalmente estranho à sua agremiação partidária, porém, o Recife tem uma tradição irredentista e altiva. Todavia, os "invasores" não estão nem aí para estas filigranas. Existe um espaço e expectativa de poder cobiçados. O cerco ao PT pelo "PT" continua. (Em 23/04/2012).
Casa Forte, 19 de abril de 2012
(Quando, também se comemora o “Dia do Índio” - uma hipocrisia do tempo em que eram tratados como espécimes de museu)
Marcelo Cavalcanti
(81)93195627 – cavalcantimarcelo1948@hotmail.com
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