PAPA FRANCISCO,
MAIS UM JESUÍTA REFORMANDO A IGREJA
Venho, novamente, falar dos fatos recentes que
comoveram nosso país e estão repercutindo no mundo.
Estou me referindo à visita do Papa Francisco, que
durante os sete dias da “Jornada Mundial da Juventude” escolheu o solo
brasileiro para testemunhar e anunciar ideias e valores, que deviam ser de
entendimento universal.
Quero fazer isso como cidadão, pois assim entendo,
primordialmente, e observo o que foi dito, aqui, no Brasil por Sua Santidade.
Falo de lições de humildade e tais lições não
precisam ter rótulos de doutrinas religiosas. Embora, em momento algum tenha
havido o escamoteamento oportunístico da identidade da Igreja. Falo de palavras
de autêntica fraternidade que são, de igual modo, abrangentes e deviam estar
impregnadas no coração de todos os humanos.
Portanto, aqui estou comentando ações, gestos,
ensinamentos que são mais amplos que os limites de uma simples doutrina. Desde
a sua chegada, e se prolongando por toda a semana, as atitudes do argentino
Jorge Mário Bergóglio foram da mais absoluta simplicidade.
Descendo a escada do avião, no qual viajou em
“classe econômica”, portando sua maleta pessoal, mostrou-se alegre, folgazão e em
seguida, embarcou em um automóvel simples, sem nenhuma pompa ou luxo,
maneirismos usuais para aqueles que ocupam a sua posição.
Recusou o isolamento de limusines e de um papamóvel
fechado. Declarou ostensivo, que não ia ficar atrás de uma “caixa de vidro” e
saiu das normas de segurança para transitar no meio do povo.
O Papa Francisco mostraria a todos, inclusive,
aqueles que não partilham de sua fé, que é possível mudar quando se tem boa
vontade.
Assim procedendo, quebrou quase todos os protocolos
de modo consciente e com muita naturalidade. Conferiu grandeza aos seus gestos,
buscando pertinazmente a simplicidade. Foi radicalmente evangélico sem se
mostrar, em nenhum momento, farisaico.
Francisco, nome que adotou inspirado em um
italiano, de Assis, que virou santo como referência de humildade e amor ao
próximo, fez questão de mostrar coerência, sem exageros, falando alto, mesmo
quando estava calado.
Recebido e visitado por autoridades, foi cordial e
afável, porém, reservou sua melhor acolhida, seu afeto mais caloroso para o
povo das ruas, para os pobres das comunidades.
É relevante comentar as instruções que deu aos seus
sacerdotes para que vão até as periferias, onde estão os mais necessitados e
desassistidos.
Também, neste aspecto, o Papa Francisco deu exemplo
continuamente, quando esteve em terra brasileira. Em um dos casos digno de
fabulário, ao caminhar nas ruas estreitas de comunidade de Varginha, na favela
do chamado complexo de Manguinhos, Francisco passou em frente a uma pequena
igreja da “Assembleia de Deus”, que estava aberta aos fiéis, que curiosos se
voltavam para o séquito numeroso. Ele então, resoluto, sai do seu caminho,
dirige-se ao pastor e de mãos dadas com todos, reza a oração do “Pai Nosso”,
que é ecumênica. Em seguida, retorna a sua caminhada.
Um gesto simples, sem pompa, sem alarde especial
para demonstrar ao mundo que todos devem se sentir irmãos, mesmo quando pensam
e exercem a fé de modo diferente.
Ele não escolheu editar uma encíclica ou articular
uma conferência de teológica para afirmar o que foi feito, com muita eloquência,
com poucas palavras, em instantes quase fortuitos.
Naquele momento, ele foi muito mais que o chefe da
Igreja. Descendo de um trono formal, o papa mostrou que é possível ser irmão,
carinhosamente fraterno, quando tudo conspira ao contrário.
No entanto, no momento em que falou especificamente
para os seus bispos, o pontífice foi duro ao reclamar do que ele considera um
descaminho para a ação apostólica. Deixou claro de maneira explícita, que sua
indicação é missionária e como tal foi imperativo: é urgente aproximar a Igreja
Católica dos pobres, dos miseráveis, dos que estão à margem do progresso e da
inclusão social.
Ao se dirigir aos jovens, que eram o alvo principal
da visita, os motivadores do evento de caráter mundial e que trouxe peregrinos de
cerca de 180 países, o Sumo Pontífice estimulou o espírito indomável, o
inconformismo juvenil como motor para mudanças que venham a trazer justiça e
reforma real da sociedade. O recado estava dado aos nossos jovens
manifestantes.
Reafirmando o ensinamento evangélico, do “sermão da
montanha”, que diz que são abençoados os que têm fome e sede de justiça porque
serão saciados, Francisco indicou aos jovens o caminho da militância. Nesta
questão, foi muito claro, dizendo não gostar de jovem que não contesta. E
então, deixou nítida sua opção pelo enfrentamento dos males políticos, sociais
e econômicos.
Portanto, fica aqui o reconhecimento por todo bem
trazido por este homem, sem dúvida, de boa vontade, que conseguiu mobilizar
cerca de três milhões e duzentos mil pessoas, reunidas em um só lugar, na missa
do envio, no domingo, inspiradas pela fé, pela esperança e pelo amor na sua
melhor expressão, o amor a Deus e ao próximo.
Enfim, declaro minha admiração por quem demonstrou
por gestos, palavras e atos que tem, de fato, confiança naqueles a quem
chamamos de jovens e não se fez de rogado quando disse: “a juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo” ...
Recife, 30 de julho de 2013
Marcelo Cavalcantiwww.politicamenteatrevido.blogspot.com
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