REQUIEM
PARA REGINALDO ROSSI
De
“crooner” do “Silver Jets” à consagração nacional
O ano era 1965, domingo, pouco
depois das duas da tarde, Rua Capitão Lima (que o povo chama, simplesmente, Rua
do Lima), na calçada, para uma “Rural Willys” (daquelas de duas cores), da
tampa traseira do carro, começam a sair equipamentos de som. Era pessoal do
conjunto “Silver Jets”, que tinha como “crooner”, o jovem Reginaldo Rossi.
Magro, esbelto, distribuindo atenções com as meninas. Ali, começava uma
carreira, que sempre foi multifacetada; umbilicalmente ligada à alma e as
emoções populares. Mesmo assim, fazendo o gosto de amplas camadas população, não
se deixou limitar e pouco tempo depois com “A Raposa as Uvas” faz uma visita à
história de Esopo, que é recontada no Século XIX por Jean de La Fontaine, mais
que isso, destaca ícones do consumo da classe média da época, como o popular
perfume “Lancaster”, o super-clássico “Chanel nº5” e a épica “lambreta”, que
chegou a ser tema recorrente de filmes como “Rome Adventure” (no Brasil, com o
nome de Candelabro Italiano).
Minha experiência com o sucesso
de Rossi inclui a audição nos idos de 1972 e 1973 de seu “Mon amour, meu bem,
ma femme”, onde a melodia chegava até meus ouvidos pelas ondas da Rádio
Iracema, programa “discoteca do fã”, anunciado pelo radialista Djalmir
Monteiro. Eram tempos de clandestinidade e saudades do Recife. Reginaldo Rossi
sublinhava meu banzo, que suspirava num subúrbio de Fortaleza, os fundos de um
depósito de fabriqueta de calçados, pegando carona no rádio dos vizinhos, tudo
entremeado pelo “slogam”: “macarrão Fortaleza é pureza em sua mesa”.
A presença de Reginaldo Rossi
na minha memória passa pela campanha eleitoral de Jarbas Vasconcelos a prefeito
do Recife em 1985, onde o cantor se tornava um “showman” e se superava a cada
comício, sendo inesquecível, o dos Coelhos, quando narrou fatos e emoções de
sua infância para em seguida pedir votos para o, hoje, senador Jarbas.
Cantei diversas vezes, de plena
voz e até em pensamento, algumas de suas canções, para falar e me inspirar no
curso das melhores emoções.
Hoje, sou compelido a escrever
esse necrológio. Ele era um legítimo ícone de nossa música mais popular. Com
franqueza e autenticidade singulares, Reginaldo Rodrigues dos Santos Rossi, sai
da vida, do cotidiano boêmio, no qual ele se incluía, assumidamente, e entra
para a História da Cultura Pernambucana e Brasileira.
Recife,
20 de dezembro de 2013
Marcelo
Cavalcanti
(81)97046806
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